Pensar: desafios na educação

Educação: o que conseguimos conquistar e o que ainda não damos conta de enfrentar

Sem continuidade entre governos, com gestões fragmentadas e disputas ideológicas, o Brasil segue sem um plano educacional coeso e estratégico

Escolas sem estrutura para o ensino ainda é realidade no país.   -  (crédito:  Reprodução/Redes Sociais)
Escolas sem estrutura para o ensino ainda é realidade no país. - (crédito: Reprodução/Redes Sociais)

Renato CasagrandePresidente do Instituto Casagrande, referência em práticas educativas inovadoras.Pesquisador, palestrante e escritor

Neste 28 de abril, Dia Internacional da Educação, celebramos avanços significativos, mas não podemos silenciar diante das feridas abertas que continuam comprometendo o presente e o futuro da escola brasileira.

Segundo o Censo Escolar 2023, o Brasil atingiu o maior número de matrículas em creches e pré-escolas desde que começou a série histórica. Houve um aumento de mais de 6% nas matrículas em creches públicas, com destaque para os municípios que ampliaram o o a tempo integral. Isso representa um o importante para garantir o direito à educação desde os primeiros anos de vida. A ampliação da oferta é também um indicativo do reconhecimento da importância da primeira infância como base de todo o processo educativo. Com programas como o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada e o aumento do acompanhamento individualizado de estudantes nos primeiros anos, muitos estados apontaram melhorias na taxa de alfabetização até o 2º ano.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2023 revelou um dado animador: os anos iniciais do ensino fundamental apresentaram crescimento em 21 das 27 unidades federativas, com destaque para os estados do Centro-Oeste, como Goiás, que alcançaram os maiores índices nacionais. A melhoria nos resultados está diretamente relacionada a ações de fortalecimento da gestão escolar, formação continuada de professores e políticas focadas em aprendizagem de base. 

É um sinal de que o investimento nos primeiros anos tem gerado impacto real. Dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) mostram que houve, em 2023, a retomada de mais de 3 mil obras paradas em escolas públicas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Entre as melhorias, estão reformas em espaços físicos, construção de creches e escolas, ampliação de salas de aula, banheiros e ibilidade. Além disso, cresceram os investimentos em conectividade, com escolas recebendo internet de alta velocidade, modernização de laboratórios e ambientes pedagógicos mais adequados.

A pandemia impulsionou uma mudança importante: a introdução definitiva das tecnologias no cotidiano escolar. Muitos estados mantiveram plataformas digitais, kits tecnológicos e formação docente em ambientes virtuais, mesmo após o retorno presencial. Programas como o Educar para Conectar e outras iniciativas regionais aram a integrar inclusão digital, inovação metodológica e personalização da aprendizagem, ampliando o repertório pedagógico e a autonomia do estudante.

Por outro lado, o novo ensino médio ainda caminha com indefinição. Faltam clareza, materiais, formação e conexão com a vida real do estudante. Enquanto os anos iniciais do fundamental avançam, o ensino médio estagnou ou recuou, segundo o Ideb 2023. É uma geração em espera, sem direção, sem perspectiva, sem pertencimento. Um ciclo que se inicia sem raízes e que termina sem propósito claro. Mais de 1,5 milhão de crianças e adolescentes estão fora da escola ou com defasagem idade-série. Em regiões mais vulneráveis, faltam livros, bibliotecas, internet e professores formados. A pandemia aprofundou o abismo social, e ainda não conseguimos recuperar os estudantes que ficaram pelo caminho. A educação segue como espelho das desigualdades brasileiras — e, muitas vezes, também como sua amplificadora.

A saúde mental e emocional dos educadores brasileiros entrou em colapso. Mais de 60% relatam sintomas de estresse crônico, segundo pesquisas recentes. Mas o problema não é só emocional, é estrutural. O professor está sobrecarregado, mal-apoiado, pressionado por metas e abandonado pelas políticas públicas. Faltam condições humanas de trabalho: tempo para planejar, turmas menores, apoio psicológico, infraestrutura básica. A inclusão é um ideal bonito no papel. É nobre, justa, necessária. A escola ou a acolher alunos com diferentes deficiências, transtornos e estilos de aprendizagem. Mas o que não se diz com a mesma força é que o professor não foi preparado para essa complexidade. Muitos estão sozinhos diante de situações que exigiriam apoio multiprofissional, formação específica, tempo e estrutura. Na prática, o que vemos é uma inclusão proclamada nos documentos, mas desamparada na realidade. 

Sem continuidade entre governos, com gestões fragmentadas e disputas ideológicas, o Brasil segue sem um plano educacional coeso e estratégico. Não há diretriz clara de longo prazo. Saltamos de programas paliativos, sem construir uma visão de país. Educação exige travessia e não improviso.

 


Por Opinião
postado em 06/05/2025 06:00
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