
Ainda na tenra idade, lembro que, no fim da década de 1990, um verdadeiro escândalo tomou conta da mídia mundial: o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, tinha um caso extraconjugal com uma estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky. Após tantos detalhes sórdidos circularem mundo afora — exatamente com o advento das redes sociais —, a mulher agora surge tentando recontar a própria história. O problema é: talvez ela não consiga.
Não é que Monica Lewinsky tenha desaparecido desde o escândalo. Existiram entrevistas, participações em programas, até mesmo livros que deram o lado da então jovem de 22 anos, que viveu uma relação amorosa com o homem mais poderoso do mundo — e 30 anos mais velho que ela.
A diferença é que agora, no fim da última semana, Monica deu uma das entrevistas mais profundas e sinceras sobre o assunto. Foi em um podcast, Call her daddy, que ouvimos um dos maiores escândalos da história sendo contado de uma forma tão íntima e próxima. Hoje com 51 anos, Monica diz que "perdeu o futuro" após o caso, e lembra com amargura sobre o tempo em que perdeu uma "queda de braço de poder" entre a própria narrativa sobre o caso e o lado dado por Clinton (que chegou a negar o caso com a jovem).
Chama a atenção, no relato de Monica, como foi o tratamento dado pela mídia sobre todo o caso. Segundo o relato da mulher, "nenhuma" história contada em incontáveis páginas de jornais foi "respeitosa". Monica conta que a própria imagem foi tão explorada, que um jornal norte-americano manteve uma média de 11 artigos por dia, durante o ano de 1998, citando o nome dela.
Ainda de acordo com o relato de Monica durante a participação no podcast, uma das piores coisas, durante a cobertura do caso, foi a forma superficial que usaram para explorar o assunto. Tópicos como a beleza da jovem, ou até mesmo o peso de Monica ultraaram o limite do respeito e fizeram uma nação lhe odiar bem além do caso que ela viveu com Clinton.
É curioso perceber que a mulher tem uma espécie de esperança de transmitir a própria mensagem em um novo mundo, para novas pessoas, de uma forma com menos julgamento. Mas será que é isso que realmente ocorrerá?
Em uma pesquisa pelo nome da mulher em buscadores da internet, fica claro que não. Não ocorreram tantas mudanças da cobertura exercida pelos jornais do fim dos anos 1990 em relação a hoje. Diversas matérias repercutindo a participação de Monica no podcast apelam para o sexo oral realizado no ex-presidente norte-americano ou outros detalhes que am longe da mensagem de novos mundos dita pela mulher.
Pode até parecer um pouco frustrante para todos que escutaram a entrevista de Monica, mas quase 30 anos depois de um dos maiores escândalos da história contemporânea, a forma como o mundo enxerga e representa esse tipo de situação não mudou tanto. A história não será recontada. A estagiária, o presidente e o tempo não aram quase nada.