INFRAESTRUTURA

GDF prepara ações preventivas para evitar alagamentos pelas chuvas

As fortes chuvas recentes em Ceilândia e no Sol Nascente expam os graves problemas causados por temporais no Distrito Federal. O GDF anunciou medidas emergenciais e obras de drenagem nas duas regiões

Na EQNP 6/10 a força da água foi tanta, que arrancou pate do asfalto de uma das ruas -  (crédito: Carlos Silva/CB/D.A.Press)
Na EQNP 6/10 a força da água foi tanta, que arrancou pate do asfalto de uma das ruas - (crédito: Carlos Silva/CB/D.A.Press)

As fortes chuvas dos últimos dias voltaram a expor problemas de alagamentos em regiões como Sol Nascente e Ceilândia. Em resposta, a Secretaria de Obras informou que prepara ações emergenciais para minimizar os impactos das águas e dar continuidade às obras de drenagem nos locais afetados. De acordo com o secretário de Obras, Valter Casimiro, os problemas no Sol Nascente decorrem principalmente da deficiência no sistema de drenagem de Ceilândia, o que exige intervenções mais amplas para conter os efeitos das enxurradas. A expectativa é de que a publicação do edital para novas obras ocorra até o fim deste mês ou no início do próximo.

"Este ano, devemos concluir 75% dos trabalhos de drenagem e pavimentação previstos", afirmou o secretário. De acordo com a pasta, outras regiões do DF também devem ter obras preventivas para o período chuvoso no fim do ano. Em Taguatinga, um projeto específico para drenagem deve ser lançado no mês que vem. Nos setores Arapoanga e Mestre D'Armas, as obras estão em fase de processo inicial. Casimiro destacou bons resultados do Drenar-DF recém-concluído na Asa Norte.

Com investimento de R$ 180 milhões, o Drenar-DF foi projetado para dobrar a capacidade de drenagem da Asa Norte e acabar com os históricos problemas de alagamento que afetavam moradores e comerciantes. A nova rede de tubulação, que soma 7,7 km de extensão, foi construída de forma subterrânea. As galerias começam nas proximidades da Arena BRB (Estádio Nacional Mané Garrincha) e seguem até a L4 Norte, cruzando vias importantes como a W3 Norte, o Eixão e a L2 Norte. Além de combater alagamentos, o Drenar-DF também contribui para a preservação ambiental, com a construção de uma bacia de detenção de 37 mil m², capaz de reter até 96 mil m³ de água antes que ela atinja o Lago Paranoá. Até o final desta reportagem, não havia informações sobre a expansão desse modelo de obras para outras áreas do DF.

Casimiro lembrou que as soluções para os alagamentos não são imediatas. "Muitos dos pontos afetados estão em áreas residenciais que surgiram de forma não planejada, o que dificulta a implantação de sistemas de drenagem. São cidades muito impermeabilizadas, crescendo sobre áreas de canalização. Essa demanda é de médio e longo prazo. É preciso ter paciência, porque depende de projetos mais vultosos", completou.

Enquanto as intervenções definitivas não chegam, o governo do Distrito Federal aposta em ações preventivas. Uma delas é a limpeza intensificada dos sistemas de drenagem, como bocas de lobo, além do direcionamento das águas das chuvas para esses dispositivos. "São obras paliativas recorrentes, mas fundamentais para mitigar o impacto imediato", explicou Casimiro.

Apesar dos esforços, o secretário ressaltou que não há um cronograma fechado para a conclusão das obras estruturais. Ele ressaltou que grande parte do trabalho a também pela conscientização da população. "As pessoas precisam ter cuidado e evitar o descarte de lixo nas ruas. Problemas podem ser comunicados pelo telefone 156", orientou.

Andreza Cavalcante, 35, deixava o filho, Emmanuel, 5, em meio a um cenário de destruição causado pela chuva
Andreza Cavalcante, 35, deixava o filho, Emmanuel, 5, em meio a um cenário de destruição causado pela chuva (foto: Fotos: Carlos Silva/CB/D.A Press)

Força-tarefa

A Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) informou que, em parceria com a Secretaria de Obras e com as istrações regionais, segue atuando nos pontos mais atingidos por alagamentos em Ceilândia e no Sol Nascente/Pôr do Sol ao longo da última semana. Entre as ações, estão a limpeza e desobstrução das redes de drenagem. De acordo com a empresa, cerca de 90 quilômetros de redes já foram limpos.

A Novacap também destacou que a força-tarefa de limpeza e restauração está em fase de conclusão. "Logo após esse serviço, as solicitações de tapa-buracos am a ser intensificadas", afirmou, em nota, a companhia, citando o Conjunto B da QNM 17 como um dos locais que devem ser contemplados.

Com o objetivo de minimizar os impactos causados pelas chuvas, o órgão está elaborando e reformulando projetos para novas redes de drenagem. Entre os projetos, está a readequação da drenagem na Avenida Principal do Setor N e nas imediações do Hospital Anchieta São Francisco, onde será implantado um tunnel liner (indicado para realização de obras subterrâneas). 

Nas quadras QNN 21, QNN 31, QNN 37, QNP 9 e QNP 11, o projeto prevê a instalação de 5.198 metros de redes de drenagem, 764 metros de galeria retangular (utilizadas para o escoamento da água em canais fechados) e 302 bocas de lobo, beneficiando uma área de 50 hectares, incluindo a creche da QNP 11 e parte do Sol Nascente.

Elementos técnicos para a licitação dessas obras foram concluídos, segundo a Novacap, e que o edital deve ser publicado este ano. Em relação à BR-070, o projeto de drenagem pluvial está em fase final de elaboração e deve ser concluído até o fim de 2025. "A obra, que abrange cerca de 570 hectares de área de contribuição para os alagamentos, tem estimativa de custo em torno de R$ 200 milhões", informou a companhia.

Antônia Farias, 74, diz ter medo de escorregar e cair, em meio às ruas enlameadas
Antônia Farias, 74, diz ter medo de escorregar e cair, em meio às ruas enlameadas (foto: Carlos Silva/CB/D.A.Press)

Impacto da chuva

Em Ceilândia, uma das regiões mais afetadas pelos temporais dos últimos dias, os estragos são visíveis. Numa caminhada por alguns trechos, é possível ver água acumulada e asfalto arrancado pela força das enxurradas. É nesse cenário que, na tarde de ontem, os pais deixavam os filhos em frente à Escola Classe 50 da região. Andreza Cavalcante, 35 anos, relembrou o momento de tensão na hora da chuva. "Foi bem desesperador. Nós imaginávamos que entraria água na escola", comentou, ao lado do filho Emmanuel Cavalcante, 5.

Apesar do alívio por a escola não ter sido atingida, a vendedora destacou que enchentes são frequentes no local. "Outro dia, a água quase me leva. Toda vez que chove é isso aí, e o estrago é grande", relatou.  Ela mencionou que isso traz dificuldade a pais e alunos, especialmente crianças com deficiência, em ar a escola durante as chuvas. "Não tem como estacionar os carros. Algumas crianças vêm de cadeira de rodas e têm que desviar dos pedaços de asfalto e buracos. Perigoso até cair", disse.  

Sob a lama

No Sol Nascente o cenário é semelhante, porém um elemento se destaca: a presença de lama por muitas ruas da cidade. Por lá, quem andava pelas ruas, ontem, ia devagar e com medo de sofrer uma queda nas vias escorregadias. A aposentada Antônia Farias, 74, falou com a reportagem logo depois de descer do ônibus. "Eu não tenho a mesma saúde de quando era mais nova. Tenho problemas nas pernas. Uma vez quase caí aqui, no meio da chuva e da lama. Se acontecer, o que eu faço?", disse, indignada. "Sei que há vontade de arrumar. Mas, mesmo assim, os problemas continuam iguais", ressaltou.

A idosa também mencionou casos graves, como um carro que capotou durante uma chuva recente devido ao asfalto danificado. "Foi bem feio. A água tapou uma boca de lobo. Ele (o motorista) foi ar e o carro virou. Ficou de pneus para cima", relatou. Para os moradores, a demanda é clara: "O que precisamos aqui mesmo é de um serviço bem feito".  

Samambaia 

Mesmo sem registros recentes de grandes temporais em Samambaia, a destruição causada pelas chuvas em outras regiões mantém os moradores em alerta. A preocupação reside no receio de que problemas locais preexistentes possam se agravar diante de eventos climáticos mais severos. A autônoma Josélia de Souza, 61, moradora há dois anos na região, descreveu um cenário de descaso com alagamentos e acúmulo de lixo que se repete a cada chuva. Ela relatou que um poço de água permanente se forma em frente à sua casa, que só aumenta com as chuvas, misturando-se ao lixo descartado irregularmente. "Só jogam lixo, sem se preocupar. Fico com medo do que pode acontecer", desabafou.

Ao Correio, a istração Regional de Samambaia informou que tem intensificado as ações de manutenção e prevenção para mitigar os impactos do período chuvoso na região. Em nota oficial, o órgão destacou a execução diária de serviços essenciais, como "limpeza, desobstrução e revitalização das bocas de lobo", visando assegurar o fluxo adequado da água da chuva e evitar acúmulos que possam causar transtornos à população. A istração ainda tem focado em medidas de conscientização direcionadas aos moradores, a fim de evitar o descarte inadequado de resíduos sólidos.

postado em 29/04/2025 05:00
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