RELIGIÃO

O que fala constituição da Igreja Católica sobre a morte de um papa?


Documento promulgado em 1996 por João Paulo II dita regras acerca do período em que fica vago o cargo mais alto da Santa Sé e acerca da consequente eleição de um novo pontífice

Por Lara Perpétuo
AFP

'Universi Dominici Gregis'

Promulgada em 1996 pelo papa João Paulo II, a 'Universi Dominici Gregis' é uma das diversas constituições apostólicas do Vaticano, que abordam inúmeros aspectos da fé católica

Divulgação/Vaticano

Sobre o que fala

Ela trata, especificamente, sobre a 'vacância da Sé apostólica' — ou seja, o período durante o qual o posto de papa fica vago, após morte ou renúncia válida — e sobre a eleição do próximo 'romano pontífice'

Vaticano / Divulgação

Onde é possível lê-la?

A Universi Dominici Gregis, bem como outras constituições apóstólicas, está disponível em diversos idiomas, inclusive português, no site do Vaticano

Andreas SOLARO / AFP

Particular atenção

Devido ao fato de o Bispo da Igreja de Roma, ou seja, o papa, ser pastor de 'todo o rebanho do Senhor', de acordo com o documento, é preciso que a 'legítima sucessão apostólica' seja, como sempre foi, objeto de 'particular atenção'

Handout / VATICAN MEDIA / AFP

Regras

Para que haja 'boa ordem na eleição do sucessor', portanto, são estabelecidas 'regras sábias e apropriadas' para orientar a preparação e o andamento do 'preciso momento histórico' e dos eleitores que vão escolher o próximo pontífice romano

AFP

Atualização e tradição

Embora atendesse a 'exigências' do tempo e estabelecesse algumas mudanças, João Paulo II teve a preocupação de não desviar, 'substancialmente, da linha da sábia e veneranda tradição' até então seguida

Alberto Pizzoli/AFP

Quem é responsável enquanto não há papa?

Assuntos ordinários, bem como os relativos ao conclave, são confiados à congregação particular do Colégio dos Cardeais, constituída por cardeal carmelengo, escolhido pelo papa para lidar com esse período, e cardeais assistentes que mudam a cada três dias

OBSERVER ROMANO/AFP

Congregação geral

Em caso de dúvidas a respeito de normas, exceto relativas à eleição, ou no caso de um problema grave que, segundo a maioria dos cardeais, não possa esperar o próximo pontífice, a maior parte deles — congregação geral — deve chegar a acordo e parecer

Alberto Pizzoli/AFP

Poder do papa

O Colégio Cardinalício não tem, porém, 'poder ou jurisdição alguma no que se refere às questões da competência do Sumo Pontífice enquanto estava vivo'. Todas essas questões 'deverão ser exclusivamente reservadas ao futuro Pontífice'

OSSERVATORE ROMANO/AFP

Direitos e leis

Os cardeais não podem 'de modo algum' alterar ou deixar que se percam direitos do Vaticano e da igreja. Também é proibida a correção ou modificação de qualquer parte de leis emanadas por papas, principalmente no que diz respeito à eleição

OSSERVATORE ROMANO/AFP

Antes do conclave

Em congregações gerais antes do início da eleição, os cardeais tomam decisões relativas a, entre outros, velório do papa morto, traslado do corpo, aprovação de despesas entre morte e sucessão e estabelecimento do início dos votos

Handout / VATICAN MEDIA / AFP

Despedida

As despedidas, ou exéquias, do pontífice 'deverão ser celebradas durante nove dias consecutivos', a partir de início fixado pelos cardeais, 'de tal modo que a sepultura tenha lugar, salvo razões especiais, entre o quarto e o sexto dia após a morte'

AFP

Fotos

Imagens do papa morto só podem ser feitas, a partir de autorização do cardeal camerlengo, com o pontífice devidamente vestido com vestes pontificais

Andrej Isakovic/AFP

Aposentos e testamento

Depois da sepultura e durante a eleição do novo papa, 'nenhuma parte dos aposentos privados do Sumo Pontífice' pode ser habitada. Se tiver sido deixado testamento, compete ao executor do documento o que concerne a bens privados e escritos

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Conclave

Na 'Universi Dominici Gregis', João Paulo II confirma o número máximo de 120 cardeais eleitores que tiverem menos de 80 anos no dia em que tiver início a vacância da Sé, a fim de proceder-se o conclave

AFP

Reuniões e orações

Isso não impede, porém, que cardeais com mais de 80 anos participem de reuniões de preparação do conclave. Além disso, espera-se que eles rezem pela tarefa dos eleitores

Andreas Solaro/AFP

Eleitores

Únicos que podem constituir o eleitorado, os cardeais devem ser esperados por 15 dias e, em casos graves, no máximo 20. Todos os convocados são obrigados a comparecer, a menos que impedidos por doença ou outro impedimento reconhecido pelo Colégio

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Alojamento de cardeais

Uma das mudanças feita pela norma de 1996 estabelece que, 'durante todo o tempo requerido para a eleição', cardeais eleitores devam ficar em 'condignos aposentos situados dentro do Estado da Cidade do Vaticano'

Dimitar Dilkoff/AFP

Saídas

Podem sair do Vaticano cardeais que tiverem motivos graves, reconhecidos como tal pela maioria dos eleitores, e somente estes podem retornar para continuar a eleição, não aqueles que, por outro motivo, se recusarem a participar do conclave

Andreas SOLARO / AFP

Espaços fechados

Espaços como a Casa Santa Marta, onde se hospedam os cardeais, e a Capela Sistina, onde ocorre a votação, devem ser fechados a pessoas não autorizadas a partir do início da eleição até o anúncio público do novo pontífice

CC/Wikimedia Commons

Vaticano

O território do Vaticano também é regulado, a fim de garantir que 'eleitores não sejam abordados por ninguém' no caminho da acomodação ao palácio onde fica a capela — para onde devem se dirigir com vestes corais em procissão com cântico específico

Andreas SOLARO / AFP

Comunicação

Os cardeais também não devem trocar correspondência, telefonar ou se comunicar com pessoas de fora da eleição, a não ser por 'comprovada e urgente necessidade'. Médicos, funcionários e religiosos que prestam serviço também juram confidencialidade

Divulgação/Focus Features

Extra omnes

A fim de iniciar-se a eleição, depois dos devidos juramentos, um cardeal indicado como ‘extra omnes’ deve fechar as portas e todas as pessoas estranhas ao conclave devem deixar a Capela Sistina. Nenhum meio de captação ou transmissão pode estar presente

Simone Risoluti/AFP

Formas de voto antigas

Antes, a votação podia ser feita por aclamação ‘quasi ex inspiratione’ — quando todos os eleitores proclamavam de forma unânime um nome, sem a necessidade de votar — ou ‘per compromissum’ — por meio de referência a comitê de eleitores

Tiziana FABI/AFP

Única forma de voto

João Paulo II julgou essas formas inadequadas e determinou que a única forma de voto seria o escrutínio secreto — em fichas retangulares dobráveis nas quais deve ser escrito 'claramente, mas com grafia o mais possível não identificável, o nome de quem (se) elege'

Gabriel BOUYS/AFP

Contagem

As fichas, dobradas duas vezes, devem ser colocadas pelos votantes em um prato e, em seguida, dentro de uma urna que fica em cima de um altar. Depois de colocados todos os votos, a urna é balançada e procede-se à contagem

AFP

Apuração

Se houver número diferente de votos e eleitores, as fichas devem ser queimadas e nova votação deve ser feita. Se estiver correto, prossegue-se para apuração feita por três escrutinadores — dos quais o terceiro diz o nome disposto em cada ficha em voz alta

Gabriel BOUYS/AFP

Soma

Furadas com uma agulha, as fichas são inseridas em um fio para serem somadas de acordo com os respectivos nomes. Depois de revisados, os votos são queimados

Alberto PIZZOLI/AFP

Eleição

Para que seja válida a eleição do novo papa, 'se requerem os dois terços dos sufrágios, calculados com base na totalidade dos eleitores presentes'. Caso o número não seja divisível por três, é necessário um votante a mais

Vincenzo PINTO/AFP

Uma ou duas vezes

No primeiro dia, é feita somente uma votação. Nos dias seguintes, se não tiver havido maioria, são realizadas duas votações pela manhã e pela tarde. Neste caso, as fichas são queimadas de forma conjunta, após o fim dos dois processos

Vincenzo PINTO/AFP

Pausa

Se, após três dias, não se obter consenso, há um dia de 'pausa para oração, de livre colóquio entre os votantes e de uma breve exortação espiritual'. Se após isso, sete escrutínios forem feitos sem resultado, faz-se nova pausa e, depois, mais sete

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Último escrutínio

Alterada pelo papa Bento XVI em 2013, a norma diz que, se não for obtido resultado, depois de mais um dia de pausa mantêm-se, nos escrutínios seguintes, apenas os dois cardeais que tiveram maior número de votos na votação anterior

TIZIANA FABI

Consenso do eleito

Efetuada a eleição, por fim, é pedido o consenso do eleito, que é perguntado como quer ser chamado. Um documento é redigido e, a partir de então, o eleito que já tenha recebido ordenação episcopal se torna imediatamente Bispo da Igreja de Roma; se não, é ordenado bispo e, depois, homenageado

Filippo MONTEFORTE / AFP

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