GOLPE DE ESTADO

Cid diz que Bolsonaro recebeu hacker para falar sobre invasão às urnas

Em interrogatório, ex-ajudante de ordens da Presidência afirmou que o Delgatti Neto foi encaminhado para reunião com general após encontro com Bolsonaro. Hacker foi condenado junto com deputada Carla Zambelli por invasão ao sistema do Judiciário

Antes de depoimento, Mauro Cid cumprimenta Anderson Torres -  (crédito: ROSINEI COUTINHO/STF)
Antes de depoimento, Mauro Cid cumprimenta Anderson Torres - (crédito: ROSINEI COUTINHO/STF)

Durante interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (9/6), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu, no Palácio do Planalto, em agosto de 2022, o hacker Delgatti Neto — condenado junto a deputada Carla Zambelli (PL-SP) por invasão ao sistema do Judiciário. O militar disse que eles conversaram sobre possíveis fraudes no sistema eleitoral brasileiro e que o ex-chefe do Executivo encaminhou o homem para uma reunião com "um general". 

Cid afirmou que o encontro ocorreu por intermediação de Zambelli. Na ocasião, Bolsonaro questionou se era possível invadir o sistema de votação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “O único hacker que esteve com o presidente foi o Delgatti Neto. Ele estava levantando as hipóteses e tentando descobrir como poderia acontecer essa fraude”, relatou. 

O delator contou que, diante da situação, Jair Bolsonaro ligou para "um general" (que ele não revelou o nome) para marcar uma reunião com o militar, Zambelli e o hacker. Ele afirmou que não teve mais retorno depois desse encontro. 

A deputada Carla Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão pelo STF por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ela fugiu do país e teve o nome incluído na lista de difusão vermelha da Interpol. Considerada foragida, a Polícia Federal oficializou o pedido de extradição da parlamentar.

Na audiência, Cid também afirmou que Bolsonaro se isolou após ser derrotado nas urnas. Segundo ele, o ex-presidente recebia e reava todas as informações durante esse período por meio do ex-ministro Walter Braga Netto — réu pela trama golpista. 

“Desde que ele (Bolsonaro) perdeu a eleição, ele ficou muito recluso. Quem tinha esse contato externo e que todo dia ia ar o que estava acontecendo para o presidente era a general Braga Netto”, disse. 

Interrogatórios no STF 

Mauro Cid é o primeiro a ser interrogado, pois fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Os demais réus serão ouvidos em ordem alfabética. Jair Bolsonaro será o sexto, podendo falar entre terça-feira e quarta-feira. As oitivas podem se estender até sexta-feira.

A Primeira Turma iniciou, nesta segunda-feira (9/6), o interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de mais sete réus no âmbito da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado em 2022. A oitiva coloca, pela primeira vez, no mesmo ambiente, desde o final do governo, o ex-chefe do Planalto e os aliados de sua gestão, que fazem parte do chamado "núcleo crucial" do esquema criminoso. Diante deles, estará o relator do processo, ministro Alexandre de Moraes.

O ex-ministro Walter Braga Netto não estará presente, porque está preso no Rio de Janeiro e será o único interrogado por videoconferência. A fala será exibida em um telão. O general da reserva terá direito à visita prévia e reservada de seu advogado antes do início do seu depoimento.

O núcleo 1 é chamado de "crucial" na denúncia e abrange a cúpula do governo Bolsonaro. A denúncia aponta o ex-presidente como o líder da organização. Também viraram réus na ação os ex-ministros Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, além de Anderson Torres; do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ); do ex-comandante da Marinha Almir Garnier; e do tenente-coronel Mauro Cid.

postado em 09/06/2025 15:49
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