TRAMA GOLPISTA

Queiroga cita preocupação com Bolsonaro após 2º turno: "Muito triste"

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro, disse que o clima de tristeza se instalou no Planalto após a derrota eleitoral de 2022

Queiroga sobre Bolsonaro:
Queiroga sobre Bolsonaro: "Cheguei a me preocupar com ele. Mas tudo ocorreu dentro de um ambiente de normalidade" - (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Em depoimento na tarde desta segunda-feira (26/5) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que jamais teve conhecimento de qualquer plano golpista em curso no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ).

Segundo Queiroga, a transição no Ministério da Saúde ocorreu com normalidade. “Eu me senti muito à vontade para ar as orientações ao ministro Alexandre Padilha, com quem eu já tinha uma relação institucional”, declarou. 

O ex-ministro também descreveu o estado emocional de Bolsonaro após a derrota nas urnas. Disse ter se reunido com o presidente no dia seguinte à eleição, no Palácio do Planalto, e o encontrou “muito triste, profundamente abatido, não parecia o mesmo”. “Cheguei a me preocupar com ele. Mas tudo ocorreu dentro de um ambiente de normalidade”, afirmou.

Ao ser questionado se houve alguma orientação do governo para impedir a transição, o ex-ministro negou. Segundo Queiroga, o próprio Bolsonaro reuniu os ministros para compartilhar o teor de seu primeiro pronunciamento após a derrota, embora não a tenha reconhecido.

“Ele nos chamou e disse: 'Olha, vou aqui combinar com vocês a minha fala, pra depois não dizer que não ouviram'. Depois ou a palavra para o ministro Ciro Nogueira. E a transição ocorreu", relatou. 

Queiroga confirmou sua presença na reunião ministerial de 5 de julho de 2022. O vídeo do encontro foi posteriormente divulgado à imprensa após retirada de sigilo pelo ministro Alexandre de Moraes. Na reunião, Bolsonaro provocou seus ministros a atuarem contra o retorno da oposição ao poder. Em tom alarmista, o ex-presidente afirmou nesta reunião que "se a gente reagir depois das eleições, vai ter o caos no Brasil", entre falas sugestivas de que haveria fraude nas eleições em favor de Lula.

Sobre as declarações, Queiroga disse que “era uma fala assertiva de um líder político, dentro do padrão do que ele fazia em outras ocasiões e publicamente”. O ex-ministro da Saúde disse não se recordar da presença do então ministro da Justiça, Anderson Torres, nessa reunião, embora o colega de Esplanada estivesse lá e tenha dado declarações.

Segundo o ex-ministro, os dois estiveram juntos em um almoço social na casa do almirante Flávio Rocha. Queiroga foi categórico ao negar qualquer menção, por parte de Torres, a decretos de estado de defesa ou de sítio. “O ministro Anderson nunca me apresentou nenhuma minuta desse tipo, nem sugeriu ou discutiu esse tipo de proposta", disse.

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O ex-ministro afirmou que Bolsonaro sempre orientou os auxiliares a agir dentro dos limites constitucionais. “Ele dizia 'agir dentro das quatro linhas'", comentou. Queiroga também mencionou sua atuação institucional à frente da Saúde, destacando que assumiu o cargo no auge da segunda onda da pandemia, em meio a um cenário de crise sanitária e jurídica, e que nunca teve uma portaria derrubada pelo STF.

postado em 26/05/2025 18:30 / atualizado em 26/05/2025 18:31
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