
A reposição dos recursos financeiros para universidades e institutos federais de ensino superior, anunciada anteontem pelo ministro da Educação, Camilo Santana, soou como um alívio para os reitores. Voltam aos caixas das instituições R$ 400 milhões, e elas estarão ainda isentas do congelamento de R$ 31,3 bilhões para gastos públicos anunciado na semana ada pelo Ministério da Fazenda.
Mas as adversidades não estão restritas aos parcos investimentos que, tradicionalmente, deixam as universidades em apuros, e projetos e pesquisas comprometidos. A violência infiltrada nos ambientes dos conhecimentos tornou-se, igualmente, grave para os gestores e para os estudantes, alvos de grupos organizados contrários à democratização e à universalização do ensino em todos os níveis, abrangendo a diversidade de raça/cor, gêneros e condições socioeconômicas.
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São recorrentes os episódios de ataques in loco e nas redes sociais, a ponto de a prática ter virado nicho de ditos influenciadores. A Universidade Federal do Ceará (UFC), em abril último, teve arrombadas as portas da biblioteca e do laboratório do Departamento de Ciências. Os invasores derrubaram estantes que abrigavam mais de 2 mil livros, quebraram vidros e cadeiras, segundo reportagem do Jornal da Unicamp. A própria instituição de Campinas sofreu dois ataques em março, de caráter racista. Os manifestantes deixaram mensagens como "Unicamp destruída" e "Estamos limpando a Unicamp", ao lado de símbolos nazistas.
A Universidade de Brasília (UnB) também tem sido palco de atos de violência promovidos por grupos antidemocráticos, que se insurgem contra as políticas de ensino sem restrições. A violência inspira muitas leituras. Entre elas, está a do cientista político, professor da UnB e escritor Luís Felipe Miguel, que busca, em pesquisa, compreender as raízes do "ódio ao conhecimento". Segundo ele, o processo de democratização das universidades pode ter impulsionado esse movimento. A classe média perdeu o domínio de um espaço exclusivo — antes destinado para seus filhos e hoje ocupado por jovens de diversas camadas sociais — e ou a questionar o papel das instituições públicas de ensino superior.
A polarização política dos últimos anos, que dividiu a sociedade brasileira, também está ligada a essas agressões. Pelas possibilidades citadas, mas também por dialogar com um retorno ao ado, quando a educação era um direito de todos, exceto dos descendentes dos negros escravizados. Assim, torna-se cada vez mais importante garantir um forte aparato de proteção às universidades e institutos de ensino superior, mas também debater os temas que incitem grupos desorientados, ou conduzidos por inverdades, a conhecer a verdadeira história e o real papel dessas instituições.
A pacificação é essencial, ainda, para proteger o Brasil de um cenário de estagnação social e econômica. Torna-se quase impossível a qualquer país ganhar notabilidade no cenário internacional sem valorizar e financiar as universidades. São elas que interagem e trocam conhecimentos com as suas iguais ao redor do mundo, propiciando soluções tecnológicas, medicamentos, protocolos avançados e tantas outras descobertas voltadas à qualidade de vida e ao progresso de uma nação.