
Dor de cabeça intensa, náusea, vômitos e sensibilidade a luz e sons. Os sintomas da enxaqueca são sentidos há pelo menos 3 mil anos. Há relatos em escrituras egípcias — datadas de 1200 a.C. — que já mostravam algumas semelhanças com essa doença. Neste mês de conscientização para a enxaqueca, artigo científico veiculado no The Journal of Headache and Pain, a publicação oficial da Federação Europeia de Dor de Cabeça, chama a atenção. Do surgimento dos primeiros sintomas à procura por um especialista, os pacientes demoram, em média, 17,1 anos. Desconhecimento, medo ou vergonha estão entre as principais razões para a demora. Resultado: as pessoas optam pela automedicação, analgésicos, na grande maioria, o que aumenta a intensidade das crises.
Além da questão de saúde, o paciente enxaquecoso não tratado ou tratado inadequadamente é significativamente oneroso para as empresas, devido à perda de produtividade e absenteísmo. Trata-se de uma doença incapacitante, superando, inclusive, problemas cardiovasculares e algumas neoplasias, em se tratando dos sintomas que comprometem atividades laborais.
O impacto maior recai sobre os cofres dos governos e setores da saúde. Segundo a pesquisa Impacto socioeconômico das principais doenças em oito países da América Latina, do Instituto WifOR GmbH, o Brasil é o segundo país mais afetado pela enxaqueca na região, perdendo apenas para a Argentina. Em 2022, o Brasil perdeu 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no combate a patologias cardiovasculares, neoplasias, cardiopatia isquêmica, infecções respiratórias, câncer de mama, diabetes tipo 2 e enxaqueca — enfermidades mais incidentes. Cerca de US$ 30 bilhões, ou R$ 168 bilhões, foram gastos só com a enxaqueca.
Para chegar a esse montante, os pesquisadores levaram em conta os ganhos induzidos pela saúde em atividades de trabalho remunerado e não remunerado. Anos perdidos devido à incapacidade ou à mortalidade foram considerados como não produtivos. Embora a enxaqueca, por si só, não seja fatal, ela é a doença mais comum entre pessoas de 5 a 19 anos, e a segunda mais comum entre 20 e 59 anos. Ou seja, manifesta-se praticamente durante toda a vida produtiva do trabalhador.
Não bastasse o extremo desconforto, o paciente enfrenta o estigma que cerca a doença, muitas vezes menosprezada e considerada de baixa repercussão. Falta compreensão da sociedade. Não à toa, é comum que a condição seja escondida. Pesquisa apresentada no Simpósio Internacional Migraine Trust (MTIS) sobre o comportamento dos pacientes em países da América do Sul, Ásia e Austrália aponta que 51% não dizem que têm enxaqueca. Desses, 62% não comentam com os colegas de trabalho, 37% omitem de amigos e 27% não contam nem mesmo ao cônjuge.
Daí a importância da campanha deste mês de conscientização. Pelo menos 15% da população brasileira, cerca de 32,3 milhões de pessoas, sofrem com enxaqueca. No mundo, são mais de 1 bilhão de doentes. Falar sobre a condição, compartilhar informações — de cuidados a caminhos de o, ou cobrança, por tratamentos —, e sensibilizar gestores são medidas fundamentais para impactar positivamente a rotina de uma parcela considerável de afetados.