
Cá entre nós. Você acha que o caos político, istrativo esportivo na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é minimamente capaz de virar gatilho de ansiedade, desencadear síndrome do pânico ou mergulhar Carlo Ancelotti em uma depressão profunda depois da do contrato para comandar a Seleção nas últimas quatro rodadas das Eliminatórias da América do Sul e na Copa de 2026? Numa boa, o técnico italiano de 65 anos é doutor em cartolagem. Por sinal, diplomado — e vacinado — nas melhores universidades do futebol.
Carletto trabalhou com gente do bem e do mal no mundo — e no submundo da bola. Tem bons informantes. Costuma saber antecipadamente onde está pisando. O homem ostenta habilidade imensa para entregar bonança na tempestade.
Em 1996, o jovem técnico Carlo Ancelotti topou a missão de assumir a prancheta do Parma. À época, o dono do clube italiano era o controverso empresário Calisto Tanzi, cujo filho, Stefano Tanzi, istrava o time do pai. Se você tem algum bichinho de pelúcia da Parmalat em casa, provavelmente ajudou a família Tanzi a enriquecer na exitosa campanha publicitária de 1998: 20 códigos de barra dos produtos da marca e mais R$ 8 davam direito à troca por um mamífero.
Bebidas lácteas sustentaram Don Carlo por duas temporadas no Parma. Na primeira delas, levou o time ao vice no Italiano em 1996/1997. Protagonizou a melhor campanha da história justamente em um momento de turbulência no negócio esportivo da família Tanzi. O poderoso Calisto havia afastado o homem de confiança Giorgio Pedraneschi para entregar a gestão ao herdeiro Stefano Tanzi. Dizem que o Parma teria sido usado para camuflar ilícitos financeiros.
O novo técnico da Seleção Brasileira também trabalhou com o poderoso chefão Silvio Berlusconi. Esse dispensa comentários. Carletto estabeleceu a boa vizinhança com o ex-premier italiano e Adriano Galliani, o braço direito do político e empresário no Milan. Deixou oito títulos em oito temporadas no cargo. "Berlusconi criticava o time quando nós estávamos bem. Quando estávamos mal, insistia: ‘não se preocupe, nós apoiamos você, acreditamos em você’, contou Carletto em entrevista ao alemão Die Welt.
Ancelotti saiu do Milan para trabalhar com o magnata russo Roman Abramovich no Chelsea. Um depoimento de Galliani explica o profissionalismo do italiano. "Carlo muito clara e corretamente dissera ao Chelsea que a decisão deveria ser tomada pelo Milan. Carlo é assim. Berlusconi e eu decidimos pela mudança”. Ancelotti deu a Premier League ao clube londrino na edição de 2009/10.
O italiano teve como patrões o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, e o CEO do PSG, Nasser Al-Khelaifi. Ancelotti ganhou a Ligue 1 para a Qatar Sports Investment (QSI) em 2012/13. Carletto deixa 15 troféus no museu do Real Madrid na gestão do não menos controverso Florentino Pérez!
Carletto é um domador de dirigentes e crises. Trabalhou com o empresário britânico—iraniano Farhad Moshiri no Everton, com Vittorio Chiusano na Juventus, Aurelio De Laurentiis no Napoli... De cartola ele entende. Portanto, deixe o homem trabalhar, CBF!