
Há poucos dias, uma das maiores tragédias climáticas do Brasil completou um ano. Doze meses após as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, são muitos os desafios que se acumulam. Apesar dos esforços do poder público nas esferas federal, estadual e municipal e da sociedade civil, boa parte dos trabalhos se concentrou na reconstrução de tudo que foi destruído pelas águas. Mas ainda é praticamente inexistente o trabalho preventivo a novas ocorrências extremas, especialmente em um contexto de emergência climática.
Um relatório divulgado na semana ada pela Agência Nacional de Águas (ANA) confirmou que as enchentes de 2024 foram o maior desastre natural da história do Rio Grande do Sul e um dos mais graves do país. Segundo o documento, nunca houve no Brasil um registro de chuvas com tamanha duração, intensidade e abrangência como as que ocorreram no território gaúcho. O desastre provocou 183 mortes, afetou mais de 2,4 milhões de pessoas, atingiu 478 municípios e provocou abalos profundos na economia local.
Mais do que relatar os danos provocados no ado recente, o estudo da ANA antecipa um alerta. A agência afirma que o Sul do Brasil é a região mais vulnerável a cheias extremas. Projeções matemáticas preveem aumento de até 20% nas vazões máximas e fenômenos como o ocorrido em 2024 têm cinco vezes mais chance de se tornarem mais frequentes na região.
Em termos de políticas públicas, a tragédia do Rio Grande traz apontamentos relevantes que precisam ser adotados daqui por diante. Os projetos de infraestrutura e os sistemas de prevenção devem levar em conta o extremismo climático atual, e não mais os registros ocorridos nas últimas décadas. Em que pese o caráter extraordinário das enchentes do ano ado no estado gaúcho, está evidente que o Brasil deve revisar toda discussão a respeito dos impactos ambientais sobre a população, particularmente nos centros urbanos, onde ela está mais concentrada.
Uma constatação importante sobre o descomo entre a realidade e o ideal é avaliar o que foi feito até aqui no epicentro da tragédia, um ano depois. Em entrevista à Agência Brasil, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), relatou o drama habitacional que permanece na capital gaúcha. Segundo ele, mais de 9 mil laudos emitidos pela prefeitura constataram a perda de casa. Essas pessoas podem recorrer a programas federais, como Minha Casa Minha Vida, obterem financiamento e conseguirem readquirir uma moradia. Outra alternativa é o Aluguel Social, que oferece uma ajuda mensal de R$ 1 mil a 3,5 mil pessoas.
Em relação ao governo federal, o ministro da Integração Regional, Waldez Góes, destacou na semana ada os R$ 111 bilhões providenciados pelo governo federal para a reconstrução do Rio Grande do Sul. E ressaltou a existência de um fundo de R$ 6,5 bilhões para reconstrução e ampliação de sistemas de proteção.
ado um ano da catástrofe, é evidente que o Rio Grande do Sul ainda está em posição vulnerável. É dever do Estado colher as lições de 2024 e definir ações que mitiguem situações climáticas extremas, não só no Sul como em outras regiões do Brasil. "O povo não entende o que é federal, estadual, municipal. Ele quer ver isso ser resolvido. A crise nos traz dores e perdas, mas nos traz a oportunidade de fazer um Rio Grande melhor", acredita o prefeito Sebastião Melo, reeleito em Porto Alegre, apesar da tragédia.