
Várias são as doenças que acometem severamente a visão. O glaucoma é um desses exemplos, além da maior causa evitável de cegueira no mundo e a primeira de cegueira irreversível. Nesse último caso, até as intervenções mais complexas disponíveis, como o transplante de córneas, não revertem a deficiência. Os desdobramentos também são críticos, como maior risco de acidentes e a elevação de quadros de ansiedade (13% a 30% dos pacientes) e depressão (11% a 25%), segundo a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).
Diante de tamanha gravidade, era de se esperar um e adequado aos pacientes e indivíduos com maior vulnerabilidade para desenvolver o glaucoma. Não é o que acontece, principalmente pela dificuldade em se ter um o regular aos serviços oftalmológicos no país. Para se ter ideia, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) calcula que quase 12% dos brasileiros nunca consultaram um oftalmologista. Não à toa, calcula-se que, dos 2 milhões de pessoas com glaucoma no país, apenas 900 mil, ou seja 45%, sabem dessa condição.
A doença, por sua vez, é silenciosa, provocando sintomas apenas nos estágios mais avançados, quando, geralmente, brasileiras e brasileiros recorrem ou conseguem ter o ao e médico. Outro problema é que nem todas as pessoas com pressão intraocular elevada têm glaucoma e algumas com glaucoma têm pressão intraocular normal, evidenciando mais uma vez a necessidade de um acompanhamento especializado ininterrupto.
A tendência é de que o universo de prejudicados por essa falta de prevenção e pelo baixo índice de diagnóstico precoce cresça substancialmente em pouco tempo. No planeta, 78 milhões de indivíduos têm glaucoma e, até 2040, o número deve subir 43%, chegando a 111,8 milhões, segundo a SBG. Além disso, há a crise da subnotificação. Nos países desenvolvidos, metade dos casos não são detectados atualmente, e a média brasileira é ainda pior.
Há previstos no Sistema Único de Saúde (SUS) 19 procedimentos para acompanhamento, avaliação e tratamento do glaucoma. Nas maternidades, o teste do olhinho é obrigatório. O exame é simples, não dói e detecta alterações no eixo visual. Ao longo da vida, porém, as pessoas têm pouca ou nenhuma iniciativa para buscar acompanhamento especializado.
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Embora ações como a Política Nacional da Assistência Farmacêutica (Pnaf), do Ministério da Saúde, venham se expandindo, ainda há muito o que se considerar. Em 20 anos do programa, incluindo a distribuição de medicamentos de uso oftalmológico, o montante de recursos aplicados ou de R$ 1,4 bilhão para R$ 21,9 bilhões em 2024. Em outra frente, o governo federal investirá R$ 2,4 bilhões este ano no Programa Mais o a Especialistas, o que também inclui a saúde ocular. A intenção é reduzir o tempo de espera para consultas, exames e resultados.
Há de se destacar que, ainda que irreversível, se diagnosticado no início, o glaucoma pode ser estagnado. Para isso, é preciso uma equipe multiprofissional, já que deficiências visuais demandam adaptações em áreas diversas, das fisiológicas às sociais. Ao entrar no Maio Verde, mês de conscientização e combate ao glaucoma, debates e novos estudos sobre essa grave complicação oftalmológica devem ganhar os holofotes. A cura ainda é uma realidade distante, mas é certo que o poder público, as universidades e as instituições de saúde estão diante do desafio gigante de evitar também que se chegue aos quadros de irreversibilidade.
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