ANIVERSÁRIO DE BRASÍLIA

Desafios e oportunidades econômicas e sociais do DF

Apesar dos desafios significativos, o DF apresenta oportunidades relevantes: a renda média é uma das mais altas do país, o PIB per capita é o maior do Brasil, os níveis de escolaridade são elevados, assim como o uso e o o à internet

Há uma concentração territorial dos empregos de mais alta remuneração nas regiões istrativas centrais -  (crédito: kleber sales)
Há uma concentração territorial dos empregos de mais alta remuneração nas regiões istrativas centrais - (crédito: kleber sales)

Por Lucio Rennó* - Distrito Federal tem características econômicas e sociais marcantes, que se mantêm estáveis ao longo das décadas, demonstrando enorme resiliência. A primeira é a concentração da economia no setor de serviços, com forte presença da istração pública. Praticamente toda a economia local — 95%, conforme estudos do IPEDF sobre o Índice de Desenvolvimento Econômico (Idecon) — é dominada por esse setor.

Ademais, há uma concentração territorial dos empregos de mais alta remuneração nas regiões istrativas centrais — o Plano Piloto em particular. Os empregos do serviço público, com remuneração média quase três vezes superior à da iniciativa privada, estão localizados na área central, enquanto nas demais regiões prevalecem empregos em outros tipos de serviços — principalmente gerais — e no comércio.

Por último, a taxa de desemprego tem caráter quase estrutural, oscilando em torno de 15%, com níveis duas vezes maiores para jovens de 16 a 24 anos. O primeiro emprego segue sendo um enorme desafio, especialmente para aqueles de mais baixa renda, conforme estudos da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese e IPEDF. Além desses elementos, há dois adicionais que impactam o crescimento local: o alto custo da mão de obra e da terra, que dificultam a atração de novos negócios.

Essa dinâmica coloca desafios para o desenvolvimento econômico da região com inclusão social e sustentabilidade ambiental — preceitos fundamentais para qualquer estratégia de crescimento. Uma economia mais diversificada, com maior presença da indústria e articulação com o setor agropecuário, agregando valor a bens produzidos localmente, abriria alternativas de geração de empregos qualificados.

O Zoneamento Econômico Ecológico visava orientar esse processo no DF, mapeando características sociais e ambientais da região, mas foi relegado ao esquecimento. Outros projetos apostaram na criação de polos para impulsionar indústrias específicas em determinadas localidades, distribuindo empregos na região. No entanto, o impacto foi baixo: o polo de modas do Guará virou empreendimento imobiliário, e muitos outros nem saíram do papel.

A concentração de empregos bem remunerados na área central gera problemas de mobilidade urbana, com um sistema de transporte público radial, baseado em ônibus, saturado, caro e com longos tempos de deslocamento. Isso reforça a dependência do carro. Pesquisas do Observatório de Políticas Públicas do DF (ObservaDF) mostram a insatisfação da população com os ônibus. Já estudos do IPEDF indicam que os carros no Plano Piloto vêm da própria RA ou de regiões adjacentes (Lago Sul e Norte, Jardim Botânico, Sobradinho II e Guará). Os habitantes das cidades mais pobres vêm de longe e de ônibus.

Por fim, o problema do emprego, especialmente o primeiro, a pela qualificação do trabalhador para a realidade local, focando nos setores que mais oferecem vagas e melhor remuneram. A formação técnica deve ser guiada pelas demandas do setor produtivo. Assim, o desenvolvimento de uma estratégia orientada por dados torna- se central para qualificar o trabalho na região.

Apesar dos desafios significativos, o DF apresenta oportunidades relevantes: a renda média é uma das mais altas do país, o PIB per capita é o maior do Brasil, os níveis de escolaridade são elevados, assim como o uso e o o à internet. Há um mercado consumidor para produtos de alto valor agregado e um público que investe em cultura e entretenimento. A região também conta com inúmeras universidades, podendo se tornar um polo de inovação. Investir nessas vantagens comparativas é um caminho que merece ser melhor explorado.

* Professor adjunto do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB)

 

Lucio Rennó, professor adjunto IV, no Instituto de Ciência Política Universidade de Brasília
Lucio Rennó, professor adjunto IV, no Instituto de Ciência Política Universidade de Brasília (foto: Arquivo Pessoal)

Por Opinião
postado em 21/04/2025 06:00
x