Esporte

Não é tempo de Botafogo

Bem-vindos à realidade das holdings. Os donos manipulam contratos de acordo com as necessidades dos times a ele vinculados.

Textor quer mais comprometimento. E não portugueses voláteis  -  (crédito: Foto: Vitor Silva/Botafogo )
Textor quer mais comprometimento. E não portugueses voláteis - (crédito: Foto: Vitor Silva/Botafogo )

Não é tempo de Botafogo para John Textor. Tenho quase certeza de que algum brasileiro gaiato disse ao pé do ouvido do empresário estadunidense: "O ano começa depois do carnaval". A folia termina em 4 de março e o Campeonato Brasileiro começa 25 dias depois. Na cabeça do dono da SAF, tempo suficiente para o novo e aguardado técnico aproveitar o possível intervalo entre o desprezado Carioca e a Série A para focar nos principais interesses do clube no ano: o bi no Nacional, o bi na Libertadores, a inédita Copa do Brasil e bom papel na Copa do Mundo de Clubes.

Se o planejamento for esse, respeito, mas discordo do tratamento de Textor a quem ele chama de "mais tradicional". O Botafogo é menor do que o Lyon? A torcida não merece este início de ano! Tiraram o doce da boca das crianças. Quando os alvinegros saboreavam os títulos do Brasileirão e da Libertadores, a derrota para o Flamengo na Supercopa do Brasil, e o pânico na Recopa Sul-Americana contra o Racing e no Campeonato Carioca amargaram a guloseima.

Trinta anos depois, o torcedor alvinegro parece reviver as cenas dos capítulos seguintes ao título do Brasileirão de 1995. O técnico Paulo Autuori foi para o Benfica. Marinho Peres, Ricardo Barreto e Jair Pereira não deram jeito no time. O Glorioso só voltou aos trilhos sob o comando de Joel Santana na conquista do Campeonato Carioca de 1997.

Não é tempo de Botafogo porque Textor prioriza a crise do menos tradicional Lyon na França. Holdings como a Eagle Football inauguram nova relação do torcedor com o time do coração. São times de empreitada. Contrata-se para uma missão. Os profissionais têm cada vez menos apego à camisa.

O jogador está ali para servir aos interesses da Eagle Football, e menos a clubes centenários como o Botafogo. Thiago Almada mandou a fila andar. "Quando eu cheguei ao Botafogo, eu já tinha tudo acertado para ficar por seis meses. E aí ir ao Lyon", sentenciou em dezembro. Luiz Henrique se mandou para o Zenit São Petersburgo da Rússia.

Eis uma das diferenças entre os modelos associativo e de uma SAF vinculada a uma holding. O Flamengo desfrutou do ídolo Gabriel Barbosa por seis anos. Entre idas e vindas, o Palmeiras contou com Dudu por 10 temporadas.

A relação do botafoguense com Almada durou seis meses. Luiz Henrique ficou 10. A empreitada acabou. Sabe o filme Mercenários? Sylvester Stallone reúne uma legião. Ao fim da força-tarefa, cada um volta para o seu canto.

Bem-vindos à realidade das holdings. Os donos manipulam contratos de acordo com as necessidades dos times a ele vinculados. Coirmão do Botafogo, o Lyon está em crise na Ligue 1. Fora da zona de o à Liga dos Campeões e à Liga Europa. Se Almada é importante para o projeto do Lyon — e não do Botafogo a essa altura —, a prioridade é do clube francês. Discordo, mas é assim no mundo pragmático de Textor.

 

Marcos Paulo Lima
MP
postado em 22/02/2025 06:00
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