
Enquanto mantém a campanha de bombardeios diários na Faixa de Gaza, Israel anunciou a construção de 22 assentamentos judaicos na Cisjordânia — a maior expansão em décadas. "Os novos assentamentos estão dentro de uma visão estratégica de longo prazo, cuja meta é fortalecer o controle sobre o território, a fim de evitar o estabelecimento de um Estado Palestino, e criar as bases para o futuro desenvolvimento de assentamentos nas próximas décadas", afirmou um comunicado o Ministério da Defesa.
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Também nesta quinta-feira (29/5), o governo dos Estados Unidos informou que Israel aceitou a proposta do presidente Donald Trump para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. No entanto, pouco depois, o grupo terrorista Hamas rejeitou o plano, por entender que ele não supre as "demandas" do povo palestino.
Os ministros Bezalel Smotrich (Finanças, de extrema-direita) e Israel Katz (Defesa) classificaram a construção dos 22 assentamentos como uma "decisão histórica". Smotrich, que vive no assentamento de Kedumi, referiu-se à Cisjordânia como "Judeia-Samaraia" — termo usado por Israel ao citar o território palestino ocupado desde 1967.
"Esta é uma decisão histórica (...), que mudará a face da região e moldará o futuro dos assentamentos na Cisjordânia nos próximos anos", declarou Katz. "Ela ancora nosso direito histórico à Terra de Israel, e constituiu uma resposta esmagadora ao terrorismo palestino."
O anúncio coincide com o aumento de críticas à guerra na Faixa de Gaza. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, declarou que "o que ocorre é Gaza é incompreensível e indescritível". "As medidas tomadas por Israel constituem uma punição coletiva da população civil", disse.
"Obstáculo à paz"
A Organização das Nações Unidas (ONU) firmou posição contrária a "toda e qualquer expansão de assentamentos" e instou Israel a a cessar por completo tais atividades nos territórios palestinos ocupados. "Elas são um obstáculo à paz e ao desenvolvimento", advertiu. O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Hamish Falconer, denunciou um "obstáculo deliberado para o Estado Palestino".
Riyad Mansour, embaixador palestino na ONU, foi às lágrimas, na quarta-feira, ao denunciar as mortes de crianças na Faixa de Gaza. O vídeo do desabafo e do choro do diplomata viralizou. Mansour condenou a manobra israelense na Cisjordânia. "Esses assentamentos, que são ilegais, têm que ser desmantelados e removidos, junto com os colonos que os habitam. Tenho confiança de que a comunidade internacional conseguirá, um dia, com a luta e a firmeza do povo palestino, cumprir com esse objetivo", disse ao Correio.
O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, acusou o governo Netanyahu de prosseguir com "ações que configuram uma agressão sistemática e limpeza étnica contra a Palestina, afetando o seu povo, seu território, sua economia e seu patrimônio histórico". "A inércia das potências diante da situação, que ameaça não apenas a existência do povo palestino, mas também a paz e a segurança internacionais, é motivo de profunda preocupação", advertiu. "Ignorar os apelos dos povos ao redor do mundo, que clamam pelo fim das hostilidades em toda a Palestina, equivale a abrir caminho para a erosão dos princípios do direito internacional, conduzindo o mundo a uma lógica de força, em detrimento da justiça."
Para Alzeben, a humanidade corre o risco de arcar com as consequências, diante da "proliferação de lideranças que desprezam os valores universais e o ordenamento jurídico". "A preservação da paz e da segurança globais é uma responsabilidade coletiva — e o que hoje ocorre na Palestina diz respeito a todos nós."
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