
Pela primeira vez em 14 anos, o Brasil recebeu a visita de um chanceler da Armênia. De agem por Brasília, onde se reuniu na semana ada com Mauro Vieira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Armênia, Ararat Mirzoyan, recebeu o Correio para uma entrevista de 20 minutos. Na pauta, as relações diplomáticas e comerciais com o Brasil, o processo de paz no Cáucaso do Sul e as perspectivas de aproximação com a Turquia. De acordo com Mirzoyan, o rascunho de um acordo de paz entre seu país e o Azerbaijão está concluído. "Nós imediatamente externamos, publicamente, nossa prontidão para começar consultas com os homólogos azeris, a fim de encontrarmos um local e uma data para mos o tratado de paz", afirmou. No entanto, ele explicou que o Azerbaijão listou uma série de pré-condições para firmar o documento e não respondeu positivamente a algumas propostas feitas pela Armênia. O chanceler armênio também classificou com falsas as acusações de violação do cessar-fogo na fronteira entre as duas nações e levantou o temor de que o Azerbaijão tenha planos para um novo ataque ao vizinho. Sobre a Turquia, Mirzoyan garantiu que Yerevan tem um "diálogo muito construtivo" com o também vizinho. Mas itiu que o governo turco espera a normalização das relações diplomáticas entre Armênia e Azerbaijão antes de dar um o adiante na normalização das relações diplomáticas. No que diz respeito ao Brasil, o ministro declarou ver um enorme potencial no intercâmbio comercial e na realização de negócios com o governo e os empresários brasileiros. "O relançamento do aprofundamento de relações entre Armênia e Brasil começou no ano ado. Tivemos consultas políticas, depois de uma longa pausa, entre os dois ministérios de Assuntos Exteriores. No fim deste ano, a segunda rodada ocorrerá", disse. Ele também afirmou que existe um convite em aberto para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitar a Armênia. "Ficaríamos honrados", assegurou.
Quais os termos do acordo de paz com o Azerbaijão? Quando ele deverá ser implementado?
Um acordo de paz soa muito bem, mas, na realidade, até agora conseguimos concluir o rascunho do acordo. O preâmbulo contém 17 artigos e, depois de longas negociações, conseguimos chegar a um acordo sobre o texto. Nós imediatamente externamos, publicamente, nossa prontidão para começar consultas com os homólogos azeris, a fim de encontrarmos um local e uma data para mos o tratado de paz. Infelizmente, o que escutamos do lado do Azerbaijão soa como o seguinte: 'Nós concordamos com o texto, mas não é o suficiente para um acordo de paz. Também precisamos de listar uma série de pré-condições que sejam levadas à mesa de negociações para possibilitar essa do acordo de paz. Essas pré-condições incluem emendas à Constituição da Armênia e a restrição a suprimentos e armamentos para a República da Armênia'. O interessante é que, juntamente com as negociações em torno do acordo de paz, encontramos outras propostas para o Azerbaijão. Propostas que acreditamos serem de benefício mútuo.
Que tipo de propostas?
Por exemplo, eu mencionei o aspecto militar, a aquisição de armamentos. Fizemos a proposta para criar mecanismos bilaterais para o controle e a verificação de armas. Não houve resposta positiva do Azerbaijão. Na última semana, eles vieram com falsas acusações de violações ao longo da fronteira por parte das forças armênias. Nós temos, por exemplo, a missão europeia de monitoramento para observar a situação ao longo da fronteira. Esses observadores não identificaram, nem encontraram qualquer violação cometida pela Armênia. Nós pedimos algumas provas ou dados ao Azerbaijão, se eles tivessem qualquer evidência de violação por parte de nossos soldados, a fim de que possamos investigar. Outra proposta nossa foi a criação desse mecanismo de verificação bilateral de incidentes na fronteira. Mais uma vez, não tivemos resposta positiva. Além disso, se um acordo de paz for concluído e estabelecermos relações com o Azerbaijão, é claro que não será algo suficiente. Podem haver mais projetos benéficos para os dois países. Também propomos a abertura da comunicação, do transporte e da infraestrutura. Eles precisam usar nossas ferrovias para conectar duas partes do países deles. Mas eles também podem utilizar toda a infraestrutura ferroviária da República da Armênia para se conectarem à Turquia, ao Mediterrâneo etc. De acordo com uma troca preliminar de troca de ideias e de acordo com as nossas propostas, nós podemos obter o recíproco à infraestrutura ferroviária do Azerbaijão. Nenhuma resposta positiva. Sim, nós concordamos com o rascunho do acordo, mas eles vieram com pré-condições e não responderam às outras propostas feitas por nós que podem trazer uma paz verdadeira e duradoura para o Cáucaso do Sul. Temos o consenso de que essas acusações falsas de violação do cessar-fogo na fronteira e a ausência de resposta às nossas propostas significam que eles têm mais planos para outra agressão, outro ataque contra a nossa integridade territorial e contra a nossa soberania.
Então, o acordo de paz está ameaçado?
Posso assegurar a você, ao mundo inteiro e ao Azerbaijão que a Armênia está completamente dedicada à agenda da paz. Não temos nenhuma intenção, nenhuma razão ou motivação para começar outra guerra e escalar a situação. Há notícias positivas: a finalização das negociações e o rascunho do tratado de paz. Mas também há notícias preocupantes. Sim, a paz, baseada no que estamos escutando do lado azeri, pode estar em perigo, por causa do Azerbaijão.
Há alguma perspectiva de normalização das relações da Armênia com a Turquia?
Nós temos um diálogo muito construtivo com a Turquia. Dentro desse diálogo, não houve nenhuma pré-condição feita pelo lado armênio ou pelo lado turco. Declaramos, publicamente, que a meta do estabelecimento de relações diplomáticas é a abertura da fronteira entre Turquia e Armênia. A fronteira foi fechada pelo lado turco há 34 anos. Fizemos algum êxito tangível. Como a suspensão da proibição do transporte de cargas por via aérea. Também estabelecemos voos diretos, entre outras várias medidas de construção de confiança. Nós concordamos que, em uma primeira etapa, a fronteira pode ser aberta para cidadãos de terceiros países e cidadãos armênios e turcos que tenham aporte diplomático. Esse acordo ainda não foi implementado. O que escutamos de nossos colegas turcos é que eles estão s a abrir totalmente a fronteira da Armênia até a normalização final das relações entre Armênia e Azerbaijão. Embora não haja nenhuma pré-condição formal, vimos que eles conectam as relações Turquia-Armênia às relações Armênia-Azerbaijão. Nós acreditamos que se abrirmos a fronteira entre Armênia e Turquia antes, isso pode surtir um impacto muito positivo nas nossas relações com o Azerbaijão. Entre as medidas tangíveis alcançadas com a Turquia, nós começamos, bilateralmente, uma infraestrutura na fronteira. Especialistas armênios e turcos começaram a examinar a situação da ferrovia que liga Gyumri a Kars. Há processos em andamento. Acreditamos que uma paz duradoura no Cáucaso do Sul também depende de assuntos humanitários, como a investigação sobre o paradeiro de pessoas desaparecidas e das vítimas de desaparecimentos forçados. Mas, também, ainda temos prisioneiros em Baku (capital do Azerbaijão) que aram por processos judiciais. Nós acreditamos que a imediata libertação dos prisioneiros pode ajudar a estabelecer uma paz duradoura entre dois povos (armênios e azeris).
Como avalia a importância de sua visita a Brasília?
Considero essa visita muito importante. Como você disse, há muito tempo não temos uma visita de alto nível, embora o relançamento do aprofundamento de relações entre Armênia e Brasil tenha começado no ano ado. Tivemos consultas políticas, depois de uma longa pausa, entre os dois ministérios de Assuntos Exteriores. No fim deste ano, a segunda rodada ocorrerá. Diplomatas brasileiros visitarão Yerevan. O ministro (Mauro) Vieira está com um convite aberto para visitar o meu país. Em Brasília, discutimos várias oportunidades. Nosso diálogo político foi intensificado e manterá o o. Temos uma cooperação muito boa em fóruns internacionais, apoiando mutuamente as candidaturas em várias posições nas plataformas internacionais. Temos as mesmas preocupações sobre o não funcionamento adequado do sistema internacional, especialmente na prevenção e no alerta precoce de graves violações dos direitos humanos e atrocidades em massa. Temos uma intensificação dos números, no que diz respeito à economia e ao comércio. Também compreendemos que ainda há grande potencial. Concordamos em organizar contatos de negócios entre os dois lados. Falamos sobre cooperação entre empresas armênias e brasileiras. Identificamos setores que podemos fazer esforços para fortalecer os laços e torná-los mutuamente benéficos, especialmente na alta tecnologia e na tecnologia de informação. Há um potencial e temos a visão sobre que tipos de os precisamos dar para aproximarmos os dois países.
Quais os números de importação e exportação envolvendo Armênia e Brasil?
Nós basicamente importamos do Brasil. Vocês são os exportadores, e isso responde por mais de 90% dos produtos. Então, está bem desbalanceado. Como você pode supor, compreende café, açúcar, tabaco, mas também outras mercadorias. Temos uma perspectiva muito otimista sobre a relação entre Brasil e Armênia.
E em relação à perspectiva de uma visita do presidente Lula à Armênia?
Ficaremos honrados com uma visita do presidente Lula. Há um convite em aberto feito pelo lado armênio. O lado brasileiro pode apresentar dados concretos. Será uma honra, especialmente levando-se em conta que o Brasil sediará a COP-30, o enorme evento sobre mudanças climáticas. A Armênia, por uma feliz coincidência, sediará a COP-17 sobre Biodiversidade. Aqui temos um potencial muito sério para Armênia e Brasil, para visitas de alto nível. Estamos muito ansiosos em receber o presidente Lula. Temos certeza de que o presidente armênio ficará feliz em fazer uma visita recíproca ao Brasil.
O que o senhor espera da cooperação com os EUA sob o governo Trump? De que forma ele pode ajudar nesse processo de paz?
Há poucos meses, assinamos um documento muito importante com os EUA, uma Carta de Parceria Estratégica. Ela eleva nossas relações com os EUA. Prosseguimos com os esforços de engajamento com o novo governo americano. Tivemos várias reuniões e interações com nossos colegas americanos. Vemos interesse na paz do Cáucaso do Sul. O presidente Trump e sua equipe têm falado sobre a paz no mundo. Para nós, que estamos muito interessados na paz, isso soa encorajador. Nós mantemos o contato com a istração americana para ver o que pode ser feito no Cáucaso do Sul para obtermos a paz duradoura.