RELIGIÃO

Papa mencionou a palavra ‘paz’ pelo menos 310 vezes em homilias desde 2020

Ao falar sobre guerras em ao mínimo 56 sermões nos últimos cinco anos, o pontífice urge por conciliação mundial

Papa Francisco fala principalmente sobre vítimas e regiões devastadas por guerras, em especial crianças que sofrem com conflitos -  (crédito: Alberto PIZZOLI / AFP)
Papa Francisco fala principalmente sobre vítimas e regiões devastadas por guerras, em especial crianças que sofrem com conflitos - (crédito: Alberto PIZZOLI / AFP)

O papa Francisco mencionou a palavra ‘pazpelo menos 310 vezes, em 88 homilias realizadas durante missas ou celebrações eucarísticas nos últimos cinco anos. As palavras ‘guerra’ e ‘guerras’, por sua vez, tiveram 107 aparições, geralmente acompanhadas por adjetivos negativos, em 56 sermões durante o mesmo período.  

Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Correio por meio da plataforma Pinpoint, do Google, que auxilia na análise de documentos. Foram registrados, ao todo, discursos de 183 homilias do líder da Igreja Católica, disponíveis no site do Vaticano, de janeiro de 2020 a fevereiro de 2025. 

Ao longo dos anos, Francisco mencionou principalmente vítimas e regiões devastadas por guerras, e apelou, em especial, para as crianças que sofrem com conflitos, muitas vezes deixadas órfãs e “devoradas” por pobreza e injustiça. “Mal”, “tribulações”, “tragédia”, “calamidade”, “horrores”, “escuridão tenebrosa”, “cruel”, “brutal”, “insensata” e “ódio” são alguns dos adjetivos e substantivos que acompanham as palavras “guerra” e “guerras” durante os sermões do santo padre. 

Conhecido como pacifista, o pontífice, que está internado desde o último 14 de fevereiro devido a pneumonia bilateral identificada no dia 18, pediu pelo fim de guerras pela primeira vez, dentro do período analisado, no dia 1º de janeiro de 2020 — quando pediu por um “mundo melhor” que fosse “casa de paz e não palco de guerra” — e, pela última, no domingo (23/2), em homilia lida por outro cardeal.  

Em abril de 2020, apelou para que se fizessem “calar os gritos de morte” e afirmou que bastava de guerras. Em outubro, posicionou Jesus contra todos os conflitos e os denominou falimento da política e da humanidade.  

“Aquele ‘basta’ de Jesus atravessa os séculos e chega, forte, até nós hoje: basta com as espadas, as armas, a violência, a guerra”, proclamou. Antes que seja demasiado tarde, queremos lembrar a todos que a guerra sempre deixa o mundo pior do que o encontrou.” 

Ainda naquele ano, Francisco afirmou que “um mundo sem guerras não é uma utopia” e que era “tempo de voltar a sonhar, com ousadia”, que a paz era possível e necessária.O diálogo dissolve, pela raiz, as razões das guerras, que destroem o projeto de fraternidade inscrito na vocação da família humana.”  

Em 2021, durante a solenidade de mortos, em 2 de novembro, o papa questionou se as pessoas, em especial os cristãos, estavam lutando “o suficiente” para que não houvesse guerras e “para que as economias dos países não sejam fortificadas pela indústria do armamento”. Também afirmou que sepulturas provenientes de mortes em conflitos eram “uma mensagem de paz” que gritavam “por si mesmas”: “parai, irmãos e irmãs, parai! Parai, fabricantes de armas, parai”. 

Na mesma solenidade, em 2023, o religioso pediu “ao Senhor a paz, para que as pessoas não se matem mais nas guerras” — que findaram a vida de “tantos inocentes” e “tantos soldados”. Ele reforçou, na mesma homilia, que “as guerras são sempre uma derrota”, pois, embora um vença o outro, “há sempre a derrota do preço pago”. 

Em 2022, clamou para que cristãos não se habituassem à guerra e não se resignassem à inevitabilidade dela; e, em 2024, pediu que os fiéis não se rendessem “à força do mundo”, mas, em vez disso, continuassem “a falar de paz a quem quer a guerra, a falar de perdão a quem semeia vingança, a falar de acolhimento e solidariedade a quem tranca as portas e ergue barreiras, a falar de vida a quem escolhe a morte”, e assim por diante. 

Em 1º de janeiro de 2023, o pontífice reforçou o pedido por tantos irmãos e irmãs atingidos pela guerra em tantas partes do mundo, que vivem estes dias de festa na escuridão e ao frio, na miséria e no medo, submersos na violência e na indiferença”. Além disso, denominou Jesus “príncipe da paz”. 

No fim do mesmo ano, durante celebração do Natal, afirmou que este mesmo príncipe da paz continuava a ser rejeitado pela lógica perdedora da guerra, com o estrondo das armas que ainda hoje O impede de encontrar alojamento no mundo” — em referência à dificuldade de se encontrar local para o nascimento do menino Jesus em Belém, conforme conta a Bíblia. 

Em junho do ano ado, Francisco mencionou o agravamento de conflitos armados, com “cada vez mais estradas, que outrora cheiravam a pão fresco, e hoje estão reduzidas a montões de escombros por causa da guerra, do egoísmo e da indiferença”. 

De que adiantam os altos níveis de crescimento econômico dos países privilegiados, se metade do mundo morre de fome e de guerra, e outros ainda observam com indiferença"> 

Em homilia do Papa lida por Dom Rino Fisichella na Basílica de São Pedro no último domingo (23/2), o líder religioso deixa claro que “um mundo onde só prevalece o ódio pelos adversários é um mundo sem esperança, sem futuro, condenado a ser dilacerado por guerras, divisões e vinganças intermináveis — como, infelizmente, vemos ainda hoje, a tantos níveis e em várias partes do mundo”. 

Alguns dias antes, em 26 de janeiro, ele havia dito, porém, que “as guerras, as injustiças, a dor, a morte não terão a última palavra”. 

A produção desta reportagem usou recursos da ferramenta Pinpoint, do Google. Confira a coleção de arquivos analisados.

Lara Perpétuo
postado em 25/02/2025 02:00
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