forças armadas

Major da Aeronáutica treina militares para proteção de mulheres e crianças na África

Militar farmacêutica hospitalar, Paula Nunes trabalhou como conselheira de gênero em missão da ONU na República Democrática do Congo. Ela retornou ao Brasil neste mês e conta sua experiência ao Correio

Marina Rodrigues
postado em 16/03/2025 06:01 / atualizado em 17/03/2025 17:40
Major Paula Nunes, 44 anos:
Major Paula Nunes, 44 anos: "Servir na FAB não é apenas um trabalho, é um propósito de vida" - (crédito: Fotos: Arquivo pessoal)

Servir além das fronteiras do Brasil, levar assistência humanitária a comunidades afetadas pela guerra e promover igualdade de gênero dentro das Forças de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) foram desafios diários para a major farmacêutica hospitalar Paula Soares Nunes, 44 anos. Militar da Força Aérea Brasileira (FAB) há 16 anos, ela desempenhou um papel fundamental na missão da ONU para a Estabilização da República Democrática do Congo (Monusco), na África Central, onde trabalhou como gender advisor (conselheira de gênero) da Brigada de Intervenção da Força (FIB).

Desde fevereiro de 2024 na cidade de Beni, uma das regiões mais instáveis do país africano, Paula retornou esta semana ao Brasil, afirmando que vivenciou um verdadeiro marco em sua carreira. "Tive a oportunidade de crescer profissionalmente, enfrentar desafios e contribuir para missões de grande importância, como essa. A motivação inicial se transformou em um compromisso diário com a excelência, o trabalho em equipe e a busca por um mundo mais seguro e estável. Servir na FAB não é apenas um trabalho; é um propósito de vida que me orgulha e me impulsiona a continuar sempre pronta para cumprir minha missão", afirma.

Ações de impacto

Major farmacêutica Paula Soares Nunes, da Aeronáutica, integra a Missão de Paz da ONU para Estabilização da República Democrática do Congo
Major farmacêutica Paula Soares Nunes, da Aeronáutica, integra a Missão de Paz da ONU para Estabilização da República Democrática do Congo (foto: Arquivo Pessoal)

Mais do que um trabalho técnico, a contribuição de Paula Nunes ajudou comunidades inteiras, garantindo, por exemplo, que operações militares no território considerem e respeitem as diretrizes da ONU voltadas à proteção de mulheres e crianças. Seu maior desafio foi estruturar uma equipe de gender focal points (pontos focais de gênero), formada por militares de diferentes países, para a implementação de políticas. Além disso, havia dificuldades no dia a dia, como falta de água, energia, internet e o a alguns alimentos.

"Reativamos uma força tarefa da Monusco com os pelotões de engajamento dos batalhões da África do Sul, Malaui, Tanzânia, Quênia e Nepal. Com esses times de engajamento formados por mulheres e homens militares, foi possível realizar cursos profissionalizantes de padaria e cabeleireiro para as mulheres locais vítimas dos conflitos armados na região", detalha.

Paula Soares Nunes, major farmacêutica hospitalar da Aeronáutica, auxilia no treinamento dos militares para questões de gênero e proteção de crianças
Paula Soares Nunes, major farmacêutica hospitalar da Aeronáutica, auxilia no treinamento dos militares para questões de gênero e proteção de crianças (foto: Arquivo Pessoal)

Esse trabalho também possibilitou a doação de medicamentos, materiais hospitalares, alimentos e material escolar para hospitais, orfanatos e presídios da cidade. "Durante essas atividades, as gender focal points desses batalhões buscavam incentivar mulheres, homens, meninas e meninos a estudarem, a se protegerem da violência. Fazíamos relatórios mensais para a coleta de informações sobre como as comunidades eram afetadas pelos conflitos", completa Paula.

Outra iniciativa importante foi a preparação de grupos para a missão. "Treinei 215 militares, incluindo 81 mulheres de contingentes dos países contribuintes, sobre como integrar as questões de gênero, quais os papéis e responsabilidades do componente militar no cumprimento do plano de ação militar de gênero da Monusco."

Restrições e aprendizados

Ela treinou militares para garantir a proteção de mulheres e crianças em zonas de conflito
Paula treinou militares de diferentes países para implementar as políticas de gênero da ONU em Beni (foto: Arquivo pessoal)

Entre os aspectos que mais marcaram a militar, está "a privação de liberdade de poder andar pelas ruas em função da imprevisibilidade causada pelo conflito da região". Ainda assim, a escolha fortaleceu seu objetivo de vida: "A experiência foi intensa e de muito aprendizado. Cumprir essa missão foi um privilégio, uma responsabilidade, e reforçou meu propósito de contribuir para um mundo mais seguro e para o fortalecimento da presença brasileira em ações globais". Se tivesse de definir tudo o que viveu em uma palavra, Paula não hesita ao escolher "gratidão".

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Neste mês especial para as mulheres, a militar deixa um recado às que sonham em desafiar limites e conquistar novos espaços: "Estudem, acreditem no seu potencial e nunca deixem que limites externos definam até onde vocês podem chegar. Sigam firmes, apoiem umas às outras e lembrem-se de que não há barreiras intransponíveis para quem está disposta a lutar pelos seus sonhos."

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