BULLYING NAS ESCOLAS

Bullying: 86% dos estudantes LGBT+ sente insegurança na escola, aponta relatório

Os motivos principais apontados pelos alunos para a insegurança no ambiente educacional foram expressão de gênero, aparência e orientação sexual

Isabela Stanga
postado em 16/04/2025 18:30 / atualizado em 16/04/2025 18:32
Entre pessoas trans e travestis, o índice de violência física chega a 38% -  (crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil)
Entre pessoas trans e travestis, o índice de violência física chega a 38% - (crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Uma pesquisa elaborada pela Aliança Nacional LGBTI+, conduzia pelo Plano CDE com apoio do Instituto Unibanco, revelou que 86% dos estudantes LGBTIA+ sentem insegurança na escola. O estudo, nomeado Pesquisa Nacional sobre o Bullying no Ambiente Educacional Brasileiro (2024), foi conduzido com 1.349 estudantes maiores de 16 anos (sendo 1.170 LGBTI+), de todas as regiões do país, entre agosto de 2024 e janeiro de 2025. 

Os motivos principais apontados pelos alunos para a insegurança no ambiente educacional foram expressão de gênero, aparência e orientação sexual.

Os resultados do relatório foram apresentados nesta quarta-feira (16/4), no auditório do Conselho Nacional de Educação (CNE). Exatos 90% dos respondentes relataram terem sofrido algum tipo de agressão verbal e 34%, violência física. Entre pessoas trans e travestis, o índice de violência física chega a 38%. O cyberbullying, que é a prática de bullying em ambiente virtual, foi citado por 31% dos jovens LGBTI+. 

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Além dos alunos, professores foram mencionados como agressores por 35% dos respondentes. Caso semelhante ocorreu na família de Maria* — que teve o nome ocultado para proteger a identidade do filhos — , mãe de um adolescente trans de 16 anos. Ela descreveu que o filho sofreu violência por parte de um educador. "Meu filho foi chamado pelo nome morto na chamada, o que abriu brecha para os alunos o provocarem", afirmou. 

Maria faz parte do coletivo Mães pela Diversidade, que reúne cerca de 100 famílias com filhos LGBTQIAPN+ em Brasília. "A escola é o maior fator de estresse para os nossos filhos, que têm apoio da família. Para aqueles que não têm, é pior ainda", ressalta. 

Segundo a pesquisa, 39% dos estudantes nunca falou sobre o bullying sofrido para ninguém. Apenas 31% buscou apoio na escola e, desses, 69% dizem que nada foi feito. 

A professora de psicologia Jaqueline Gomes de Jesus, do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), evidencia a gravidade dos índices de saúde mental revelados pelo estudo. "Em torno de 4% da população brasileira tem, em algum momento da vida, transtorno de estresse pós-traumático, devido a algum evento, alguma situação. Na pesquisa, eu identifiquei até agora e isso me deixou bem chocada, 44%. Isso é muito grave", expõe. 

Exatos 94% dos estudantes revelaram terem se sentido deprimidos no mês anterior ao questionário. 47%, por sua vez, alegaram terem faltado à escola no último mês por sentirem-se inseguros. 

Ao Correio, o presidente da Aliança Nacional LGBT+, Tony Reis, defendeu a promulgação de uma resolução no Conselho Nacional de Educação sobre o assunto. "Não é uma questão de progressistas e conservadores. Nós não queremos violência dentro da escola. Acho que a pesquisa nos mostrou que nós precisamos de ações concretas", completou. 

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