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O legado de Francisco Galeno r1x6d o artista plástico da brasilidade
LUTO

O legado de Francisco Galeno, o artista plástico da brasilidade 626s5e

Morre o artista plástico Galeno, que construiu uma obra inspirada na memória de menino do Delta do Parnaíba e na vivência de Brasília 423520

Na última quinta-feira, o artista plástico Galeno, que morava no Delta do Parnaíba, no Piauí, sentiu uma indisposição e ligou para o filho João Galeno, que mora em Brasília. João recomendou que ele procurasse um médico com urgência. Depois disso, não conseguiu mais contato e, ontem, pediu à mulher que fazia serviços na casa para verificar o que acontecera.

Ela encontrou Galeno morto. A causa da morte será esclarecida pela necropsia, mas existe a suspeita de que seja em decorrência da dengue. "Ele estava 100% ativo, trabalhando, feliz com o reconhecimento do trabalho e com as exposições importantes que faria", conta o filho.

Galeno era o nosso curumim arteiro. Ele foi um legítimo filhote do modernismo de Brasília. Athos Bulcão disse que Brasília deveria educar, cotidianamente, os brasilienses para cultivarem a arte.  Nem sempre isso acontece. Contudo, no caso de Galeno, a cidade funcionou mesmo como uma grande escola ao ar livre.

Um dos últimos trabalhos que fez foi o que está instalado no Salão Nobre do Palácio do Planalto e se chama Quatro estações, que são representadas pelo jogo de cores, na forma de signos da vivência de menino do Parnaíba estilizados, com pequenos objetos de madeira ao centro (baladeiras, carretéis, lamparinas, peões). A pintura- beira a abstração, no entanto, está carregada de afetividade e de ancestralidade.

Galeno atendeu a convite do arquiteto Rogério Carvalho, o mesmo autor do projeto de criação do para a Igrejinha da 308 Sul, que substituiu o original de Volpi, destruído por um padre de poucas luzes, que aplicou uma demão de tinta sobre as imagens.

O artista nasceu em Parnaíba, no Piauí, em 1957, e se mudou para Brasília em 1965, aos 8 anos. Sentia uma sensação de pesadelo com os prédios do Plano Piloto, que pareciam próximos, mas ficavam distantes quando caminhava para chegar até eles. Na inocência de moleque do interior, pensava que isso era o tal moderno de que se falava tanto.

Com a inquietação de curumim arteiro, paulatinamente, assimilou o espírito da cidade ao vivenciar a arquitetura de Niemeyer, os painéis de Athos Bulcão, as banderinhas de Volpi e a pintura de Rubem Valentim, inspirada nos signos do candomblé e da cultura afro-brasileira. Aprendeu a valorizar a sua vida de menino nordestino e a olhar para os objetos, as brincadeiras e as festas sob um prisma modernista.

Com figuras e materiais precários (carrinhos de lata de sardinha da infância, carretéis, bilros da mãe bordadeira, canoas construídas pelo avô, móveis do pai marceneiro), ele fez uma festa brasileira para os olhos, recriada sob lentes construtivistas. A sua arte é de extremo requinte e elegância.

Em vez de jogar a experiência pessoal debaixo do tapete e copiar a última moda de Paris ou Nova York, escavou, de maneira (quase sempre) autodidata, com muito trabalho, um caminho singular. Percebeu que, para encontrar uma linguagem própria, precisava voltar às coisas simples de menino inebriado pelas formas e cores do Delta do Parnaíba piauiense.

Galeno não foi programado para ser artista, mas, sem saber, a arte estava em seu sangue. Descende de uma família de artesãos piauienses. Aos poucos, depois de se mudar para Brasília, as peças da memória do Parnaíba e da experiência na capital modernista foram se encaixando em um quebra-cabeças lírico de infinitas combinações.

O Parnaíba invadiu Brasília e Brasília atravessou o Parnaíba, numa teia que lembra a urdidura dos bordados de sua mãe ou os grafismos da arte indígena: as casinhas dos bairros pobres nordestinos e os edifícios de curvas audaciosas de Niemeyer, as canoas e os anzóis, os carrinhos de lata de sardinha e os carretéis das costureiras, a composição dos prédios das superquadras e os barracos dos candangos, os camaleões do Piauí e os calangos do Cerrado, as lamparinas e as fiações dos postes de luz do Plano Piloto, os casebres e a pirâmide do Teatro Nacional, as dunas de areia e os espaços brancos de silêncio da capital modernista.

Alheio aos modismos

Galeno construiu o caminho alheio aos modismos e, ao mesmo tempo, atento às experimentações da arte contemporânea. Armado por esse olhar, quando as suas figuras saltaram dos quadros e ganharam a forma tridimensional das esculturas, objetos, painéis, instalações e roupas, conseguiu a proeza de aliar dois mundos aparentemente incompatíveis: a arte popular e a arte de vanguarda.

Os destinos de Galeno e de um dos seus mestres, Alfredo Volpi, se cruzariam em 2009 na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima (108 Sul). Foi convidado a refazer, com a sua visão, uma parede pintada por Volpi, que um padre de poucas luzes apagou com uma demão de tinta. A versão de Galeno não poderia deixar de incluir pipas, borboletas e uma Nossa Senhora com as cores vibrantes da cultura popular brasileira. A princípio, provocou reações de devotos conservadores, mas, com o correr do tempo, tornou-se uma grande atração. À noite, quem a de carro percebe a luminosidade das figuras se irradiando. Parece uma festa no céu.

O prestígio internacional veio depois que o Cerimonial da Presidência da República ou a adquirir os seus quadros para que os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff presenteassem representantes de outros países com as suas gravuras. O presidente dos EUA, Barack Obama, foi dos agraciados. A intenção é mostrar o que o Brasil tem de melhor: a alegria, o ritmo, a cor, o desejo de felicidade, mesmo sob o peso dramático da pobreza.

Nos últimos tempos, Galeno vivia parte em Brasília e a outra, no Parnaíba, nadando, pescando, plantando e fazendo arte. Sentia-se em casa tanto no Piauí quanto no Planalto Central. Quando perguntavam o que o levou até lá, respondia que foi fazer doutorado na própria vida. Foi para lá para sentir o tempo se escoar lentamente.

O mundo da memória do Delta do Parnaíba, batido de luminosidade, de oceano, de rios, de dunas e de casinhas coloridas parecia um sonho, mas ele descobriu que o sonho era real, estava ao alcance do corpo e ele podia habitá-lo. Galeno enviava muitas mensagens aos amigos por zap. Essa foi a última transmitida na quinta-feira, pela manhã: "De onde vem o São João/Vem de baixo de cima do chão..../Eu quero ver o poeirão levantar".

 

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