PROTEÇÃO

Fotógrafo que protegeu o meio ambiente

Sebastião Salgado dedicou grande parte da vida à proteção ambiental

 Sebastião Salgado chamou a atenção do mundo para a Amazônia -  (crédito: Sebastião Salgado/ Divulgação)
Sebastião Salgado chamou a atenção do mundo para a Amazônia - (crédito: Sebastião Salgado/ Divulgação)

Reconhecido mundialmente pelo trabalho na fotografia, Sebastião Salgado dedicou grande parte da vida à proteção ambiental. Em 1998, ele e a esposa, Lélia Salgado, criaram a organização não-governamental Instituto Terra, com intuito de recuperar a biodiversidade da Mata Atlântica e promover o desenvolvimento rural sustentável na Bacia do Rio Doce, região entre Minas Gerais e o Espírito Santo castigada pelo desmatamento.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Amigo de Salgado há 55 anos, Cristovam Buarque, ex-senador e ex-ministro da Educação, falou ao Correio sobre a morte. "No prazo de um mês, o mundo perdeu três imensos pedaços do que ainda nos resta de humanismo: Francisco, Mujica e Salgado", declarou. Os dois moraram juntos em Paris, na França, com o ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, e escreveram o livro O berço da desigualdade, lançado em 2005.

Leia também: Sebastião Salgado reflorestou Vale do Rio Doce e plantou 4 milhões de árvores

Ex-ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Izabella Teixeira disse estar arrasada com a perda. "Tião é e sempre será um homem do bem. Continuará presente com o seu legado, sua família e amigos. Foi um grande e leal amigo, que apostava na simplicidade da vida e na verdade. Ajudou e continuará ajudando muita gente e o planeta. Foi um presente tê-lo na minha vida com a sua especial presença", afirmou a também bióloga.

"Se uma imagem vale mais do que mil palavras, Sebastião Salgado construiu enciclopédias", descreveu Pablo Casella, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). "Obra monumental que parece ter escolhido pulsar uma das essências humanas mais sublimes: vivenciar a realidade, em sua inteireza, repleta de feiúra, violência, atrocidades, ao mesmo tempo que bela, transcendente. Em nosso tempo desolador, agradeço a ele por ter mostrado a possibilidade de uma existência com significado", enalteceu.

Leia também: Exposição 'Amazônia', de Sebastião Salgado

"Na família, há tempos, fala-se no "projeto Sebastião Salgado", alusão à sua contribuição derradeira com a restauração ambiental de centenas de hectares de Mata Atlântica em sua fazenda Bulcão, em Minas. Obrigado por tanto, Sebastião", finalizou o analista.

Professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB), Elimar Nascimento conheceu Salgado rapidamente, no início da carreira, quando os dois moravam em Paris. "Salgado é uma daquelas pessoas que a gente pode chamar de grande humanista. Ele pensava na humanidade como um todo, no presente e no futuro", definiu.

Elimar lembra que, na época em que se encontraram, o ativista estava no processo de trocar a carreira em economia, curso em que era graduado, pela fotografia. "Os homens e a natureza foram um componente maravilhoso do trabalho dele, e que se exprimiu na vida cotidiana, no processo de revitalização dele. Foi um artista extraordinário, e um humanista também. Compreendeu os momentos que a gente, como sociedade, tivemos e ainda vamos ter", completou.

Marta Salomon, analista do Instituto Talanoa, também teve um contato breve, porém marcante, com o fotógrafo, durante a abertura de uma exposição do artista no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. "Nas fotos dele, eu via uma outra Amazônia, bem mais poética, e milhares de motivos para manter a floresta em pé. Espero que o trabalho dele de restauração florestal, para além da Amazônia, siga vivo", torceu.

Jordi Raich, chefe da Delegação Regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha recebeu Sebastião Salgado, após o genocídio de Ruanda em 1994, e nos campos de refugiados no Zaire (atual República Democrática do Congo). "Além de ser um fotógrafo-mestre que dedicou sua vida a denunciar a exploração e a violência, e a capturar a vida dos mais desfavorecidos, ele era uma grande pessoa, humilde e dedicado ao próximo. De manhã, depois do café com a equipe, ele pegava suas câmeras e ia embora, dizendo para não nos preocuparmos. Sebastião podia desaparecer por dois ou três dias sem retornar, não sabíamos onde dormia ou o que comia. Retornava com os olhos brilhando, cheios de imagens, triste com o que fotografou, feliz por poder contá-lo ao mundo através da arte."


postado em 24/05/2025 06:00
x