Diversidade

Ônibus-Galeria leva exposição de arte ao Memorial dos Povos Indígenas

Projeto Interação Corpo/Som AIC (Arte Indígena Contemporânea) propõe interação que circula por vários pontos da cidade

Ônibus-galeria Truque vai receber os artistas do Corpo/Som -  (crédito: Divulgação)
Ônibus-galeria Truque vai receber os artistas do Corpo/Som - (crédito: Divulgação)

Nascida de uma pesquisa acadêmica no curso de arte da Universidade de Brasília (UnB), a segunda edição do projeto Interação Corpo/Som AIC (Arte Indígena Contemporânea) tem início com exposição móvel, feira e música no Memorial dos Povos Indígenas. Serão, no total, três fins de semana de eventos que celebram a transversalidade e a diversidade ao reunir artistas indígenas e não indígenas contemporâneos, músicos  e comércio de artesanato. 

Estacionado em frente ao museu, o ônibus-galeria Truque, de Oziel Araújo, recebe as instalações de Adriane Kariú e Rômulo Barros. A curadoria é de Raquel Nava e Dalton Camargos, que convidaram os artistas e deixaram que eles criassem as obras da exposição livremente. "Adriane é uma artista indígena que tem um trabalho de intervenção urbana. Ela participa de manifestações na rua, esteve na marcha do ATL, fez lambes do acampamento", avisa Raquel. Rômulo também faz intervenções nas quais considera o espaço expográfico tanto conceitualmente quanto espacialmente. "A gente procurou artistas que não trabalhassem somente no contexto da galeria, da instituição, do museu, com formatos muito tradicionais de arte." 

Hoje, o DJ Maze será responsável pelo som. Nos próximos fins de semana, o ônibus Truque será ocupado por Gu da Cei e Brida Abajur, enquanto fica estacionado no Museu Vivo da Memória Candanga, e no último fim de semana do mês será a vez de Thalita Perfeito e Silvie Eidam, com parada no Centro Cultural de Samambaia. 

O trabalho de Adriane consiste, principalmente, em se apropriar de imagens e fazer interferências trazendo para a obra padrões indígenas. Para o ônibus, ela também leva os lambes. Rômulo é um artista não binário e não indígena, autor de obras que bebem em referências de memória e ancestralidade. Nascido no interior de Goiás, o artista produz a partir de uma perspectiva identitária que o faz olhar para o ado e para o presente. 

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

A obra criada para o ônibus-galeria é fruto de uma parceria entre os dois artistas e partiu da interseção entre as concepções poéticas de Adriane e Rômulo. "A gente conseguiu encontrar um elo na parte em que dialogamos sobre território", explica Adriane. "Um dos principais pontos da minha pesquisa poética é essa questão dos trânsitos migratórios diaspóricos dentro do Brasil e isso acaba puxando a pauta de território. Rômulo fazia um trabalho pensando na terra como entidade, em trabalho sobre ciclos de decomposição, a terra como uma entidade viva, os ciclos ecológicos, falando sobre animais rastejantes, minhocas e vermes." O resultado é uma instalação para a qual a artista preparou gravuras impressas em sangue e Rômulo criou aquarelas, também feitas com sangue. O ônibus foi uma ideia de Oziel Araújo, que comprou o veículo  antes da pandemia para criar um espaço alternativo de arte que circulasse pela cidade. O Truque já foi palco de shows, lançamento de discos e exposições. 

Idealizador do  projeto, Pablo  Patrick Ornelas Botão criou o evento inspirado na obra de Jaider Esbell, artista indígena morto em 2021. A primeira edição do Interação Corpo/Som AIC foi resultado do trabalho de conclusão de curso em crítica de arte e teve um formato menor do que essa segunda edição que Pablo apresenta agora. "Depois de algum tempo na faculdade de teoria crítica, a gente acaba tendo umas epifanias de conhecimento e uma delas é sobre o que é a arte", explica. "O Jaider Esbell contribui para esse debate de maneira muito singular e brasileira. Ele tem uma característica muito brasileira. Os engajamentos de curadoria, para mim, são muito fundamentais na difusão desses conhecimentos, dessas sabedorias, os modos de fazer singulares são muito importantes, bem como os deslocamentos e trocas. Algumas dinâmicas  são facilitadoras desse conhecimento", diz. 

Corpo/Som AIC (Arte Indígena Contemporânea) 

Domingo (11/5), das 14h às 22h, no Memorial dos Povos Indígenas. Com Rômulo Barros, Adriane Kariú, DJ Maze.

postado em 11/05/2025 05:50
x