Cinema

'Oeste outra vez', do diretor Erico Rassi, toca os sentimentos masculinos

Pesquisas de mais de ano para locações e uma equipe dedicada, por seis semanas, às filmagens encurtaram a sensação de distância entre São João d'Aliança e o sertão goiano do Vão do Paranã, ambientes para o filme. Há no enredo um proposital vazio na imagem feminina

Ângelo Antonio é um homem sofrido de amor, em Oeste outra vez -  (crédito: O2 Play Filmes)
Ângelo Antonio é um homem sofrido de amor, em Oeste outra vez - (crédito: O2 Play Filmes)

Um filme de interior, com registro de sentimentos masculinos bem recônditos: assim é o longa Oeste outra vez, do diretor nascido em Anápolis Erico Rassi, em cartaz no Cine Brasília. Pesquisas de mais de ano para locações e uma equipe dedicada, por seis semanas, às filmagens encurtaram a sensação de distância entre São João d'Aliança e o sertão goiano do Vão do Paranã, ambientes para o filme. Há no enredo um proposital vazio na imagem feminina. "A gente queria que as mulheres abandonassem o filme (na trama) para deixar bem claro que elas não querem fazer parte daquele universo violento dos homens. Entre brigas e mortes, há a dificuldade de os homens falarem de seus sentimentos. Nisso está o lance desse macho que não pode esboçar sentimento. Poderia ser visto como uma fragilidade. Ser frágil, naquele lugar tão embrutecido, é praticamente um crime", observa Erico Rassi. Empregar senhoria, a cada frase dos personagens, é uma constante diferenciada no filme que tem atores como Ângelo Antônio, Babu Santana, Rodger Rogério, Antônio Pitanga e Adanilo em cena.

"Isso vem de uma coisa muito observacional. De pessoas com quem convivi e de uma pesquisa, durante a escrita do roteiro, pelas imersões locais em que fiz muitas entrevistas com homens de diferentes espectros, desde trabalhadores rurais a fazendeiros, tudo sem muito recorte. Esse jeito de falar (no filme) é uma forma de eles se protegerem. Usam expressões vazias para não falar o que eles estão sentindo", avalia o cineasta. Ator de carreira cênica pequena, mas consolidado como músico, na pele do pacato Jerominho, Rodger Rogério venceu o prêmio de melhor coadjuvante no Festival de Gramado, em que o filme foi considerado o melhor, bem como a fotografia.  "Faroeste, apesar de essencialmente americano, é um gênero definido pela ambientação. Qualquer região isolada, onde lei e ordem não estejam plenamente constituídas, casam com a proposta e com regiões do Brasil.

Nas décadas de 1950 e 1960, tivemos uma produção de filmes que dialogava muito bem com western, o chamado western feijoada que trazia o cangaço. Os filmes do Glauber Rocha eram subversões do gênero", observa Erico, que ressalta riquezas formais e estéticas muito brasileiras. Com tom intrinsecamente cômico, Oeste outra vez traz momento em que brutos têm certa vez, mas bem pequena. "Quando comecei a fazer filmes Quentin Tarantino era uma influência forte, pela combinação de violência e humor, como diversão. Fui me afastando, e, naturalmente, descobri minha visão", diz o goiano. Ciente de uma relação "muito observacional" na constituição de sua filmografia, Erico Rassi assume os reflexos da criação e da formação no interior de Goiás. Curiosamente, Oeste outra vez competiu, no Festival de Gramado, com o filme de Anna Muylaert O clube das mulheres de negócios. "São filmes complementares. A diferença é que o dela fala do feminino pela presença e o meu fala pela ausência. Complementares, mas com diferentes abordagens", conclui.

 


postado em 01/04/2025 06:01 / atualizado em 01/04/2025 11:28
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