Cinema

Murilo Salles sobre Cacá Diegues: "Morreu o porto seguro do cinema!"

Morte de Cacá Diegues, autor dos clássicos Xica da Silva e Bye bye Brasil, impacta a classe artística do país

O diretor Cacá Diegues, nos estúdios da TV Brasília -  (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
O diretor Cacá Diegues, nos estúdios da TV Brasília - (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)


"Morreu o norte magnético e o porto seguro do Cinema Brasileiro. Cacá! Presente!", demarca Murilo Salles, ao tratar da morte do amigo Cacá Diegues, emblemático para o cinema nacional, desde a prospecção do Cinema Novo. O diretor de vanguarda Murilo Salles, de longas como Seja o que Deus quiser (2002) e Nome próprio (2007), além de títulos do impacto de Pornografia (1992) e Como nascem os anjos (1996), faz coro de lamento com a classe artística do cinema. Filha de Glauber Rocha, fundamental pilar do movimento do Cinema Novo, a cineasta de títulos como Anabazys (2006) e Olho nu (2012) Paloma Rocha relembra da imagem mais familiar de Cacá, sempre generoso e entusiasmado: "Conheci ele, menina, casado com Nara Leão. Morávamos todos na Visconde de Pirajá em Ipanema, no Rio. Glauber me levava sempre lá; com seus filhos, brincava. Cacá dedicou sua vida a pensar o cinema e com grandes filmes. Meu carinho para toda família, num dia triste", comentou, ao Correio.  

Pré-representante do Brasil no Oscar, com o longa documental Tesouro Natterer, o diretor brasiliense Renato Barbieri demarca que hoje, o cinema está de luto. "Perdemos o gênio Cacá Diegues. Cacá, além de ter marcado para sempre a cultura brasileira com seus filmes maravilhosos, como Xica da Silva, Deus é brasileiro, Bye bye Brasil e muitos outros de sua imensa filmografia, projetou o Cinema Brasileiro para o mundo, tendo participado da seleção oficial de Cannes, Veneza e grandes festivais. Cacá fez a cabeça de muitas gerações do cinema brasileiro", pontua. Ele conta que quando assistiu ao Bye Bye Brasil, pela primeira vez, nem sonhava um dia ser cineasta e dali, viu algo inspirador e que o marcou para sempre. "Cacá, assim como nosso saudoso Vladimir Carvalho, pertence a uma geração que tem a marca da generosidade, que sempre apoiou as gerações mais novas de cineastas. O filme Pureza (de Barbieri) mobilizou Cacá, que fez questão de assisti-lo na tela grande. "Depois nos deu um tocante testemunho, que incluímos no trailer oficial e que guardarei para sempre como uma relíquia. Cacá tornou-se imortal na Academia Brasileira de Letras e é imortal para o Cinema Brasileiro. Viva Cacá Diegues!", comentou.

Outra diretora e roteirista sensibilizada por Cacá foi Moara oni, coautora do roteiro do documentário indicado ao Oscar Democracia em vertigem (fita de Petra Costa, feita em 2019). "Nesse dia triste em que a gente chora a partida de um dos maiores diretores do cinema nacional, lembro do quanto Cacá Diegues fez nosso cinema respirar, transbordar, se descobrir, reinventar", observa. Ainda muito nova, ela conta ter assistido a Bye Bye Brasil. "Foi de um impacto brutal. Fiquei completamente impressionada com a linguagem do filme e de como ele foi capaz de articular nossa realidade no cinema, de forma brilhante. Uma descoberta do que nosso cinema pode fazer, de sua originalidade. E foi uma descoberta de Brasil: de repente, acompanhamos dramas fundamentais que atravessam muitos brasileiros. Hoje, quero dizer: 'Vida eterna a Cacá e seu cinema! Viva o cinema nacional!'", demarcou.

 



  • O diretor de Nome próprio Murilo Salles
    O diretor de Nome próprio Murilo Salles Foto: Arquivo pessoal/ Divulgação
  • O cineasta brasiliense Renato Barbieri
    O cineasta brasiliense Renato Barbieri Foto: Breno Pompeu/divulga?ao
Ricardo Daehn
postado em 14/02/2025 11:34
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