
Apesar da redução de 40% na mortalidade materna entre 2000 e 2023, uma parturiente morre a cada dois minutos no mundo, número que poderá aumentar devido aos cortes no financiamento humanitário. O alerta é da Organização das Nações Unidas (ONU) em um relatório divulgado, na ocasião do Dia Mundial da Saúde. Com Estados Unidos e países europeus, incluindo Inglaterra, França e Alemanha, anunciando reduções para programas de assistência globais, o temor é de que, principalmente nas regiões mais pobres, os óbitos associados à gestação voltem a crescer.
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"Vamos enfrentar ventos contrários cada vez mais fortes", itiu Bruce Aylward, subdiretor-geral da Organização Mundial da Saúde, na coletiva de imprensa do lançamento do relatório. "Os cortes nos fundos podem não apenas comprometer os avanços, mas também provocar um retrocesso. A redução (nos financiamentos) afeta não apenas o o a remédios e material médico, mas também aos profissionais qualificados." Enquanto potências europeias estão revendo os orçamentos de ajuda humanitária, a istração Donald Trump já anunciou a saída dos Estados Unidos da OMS.
Segundo o relatório, os cortes orçamentários estão forçando os países a reverter serviços vitais para a saúde materna, neonatal e infantil. Além do fechamento de instalações e da perda de profissionais de saúde, tratamentos para hemorragia, pré-eclâmpsia e malária — todas as principais causas de mortes maternas — já sofreram o impacto da redução de financiamento. "Sem uma ação urgente, as mulheres grávidas em vários países enfrentarão repercussões severas — particularmente aquelas em cenários humanitários onde as mortes maternas já são assustadoramente altas", diz o documento.
"Quando uma mãe morre durante a gravidez ou o parto, a vida de seu bebê também está em risco. Muitas vezes, ambos são perdidos por causas que sabemos como prevenir", disse a diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell. "Os cortes globais de financiamento para serviços de saúde estão colocando mais mulheres grávidas em risco, especialmente nos ambientes mais frágeis, ao limitar seu o a cuidados essenciais durante a gravidez e ao apoio de que precisam ao dar à luz. O mundo deve investir urgentemente em parteiras, enfermeiras e profissionais de saúde comunitários para garantir que cada mãe e bebê tenham uma chance de sobreviver e prosperar."
Estagnação
Em duas décadas, o declínio da mortalidade materna foi 40%, uma melhoria associada especialmente ao melhor o a serviços essenciais de saúde. Porém, desde 2016, houve uma queda significativa no ritmo da redução de óbitos, com 260 mil parturientes mortas em 2023 devido a complicações da gestação ou do parto.
"Embora esse relatório mostre vislumbres de esperança, os dados também destacam o quão perigosa a gravidez ainda é em grande parte do mundo hoje, apesar do fato de que existem soluções para prevenir e tratar as complicações que causam a grande maioria das mortes maternas", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "Além de garantir o o a cuidados de maternidade de qualidade, será fundamental fortalecer a saúde subjacente e os direitos reprodutivos de mulheres e meninas — fatores que sustentam suas perspectivas de resultados saudáveis durante a gravidez e depois dela."
O relatório destaca desigualdades persistentes entre regiões e países. Com a mortalidade materna diminuindo em cerca de 40% entre 2000 e 2023, a África Subsaariana obteve ganhos significativos e foi uma das três regiões da ONU, ao lado da Austrália e Nova Zelândia, e Ásia Central e Meridional, a ver quedas expressivas após 2015. Porém, ainda é o local do planeta onde ocorrem 70% dos óbitos de gestantes.
Em cinco regiões, a queda da mortalidade estagnou a partir de 2016: Norte da África e Ásia Ocidental, Leste e Sudeste Asiático, Oceania (excluindo Austrália e Nova Zelândia), Europa e América do Norte, e América Latina e Caribe. Nesta última, que inclui o Brasil, 7,2 mil mulheres morreram de complicações na gestação: ao longo da vida reprodutiva, o risco de óbitos associados é de 1 para 786. Em comparação, esta chance é de 1 em cada 2.981 na Europa Ocidental e na Ásia Central.
Covid
O relatório também traz o primeiro quadro global do impacto da pandemia de covid-19 na mortalidade materna. Em 2021, a ONU estima que 332 mil mulheres morreram de problemas na gravidez ou no parto, 40 mil casos a mais do que o registrado no ano anterior. Segundo o documento, esse aumento foi associado não apenas às complicações causadas pelo coronavírus, mas também às interrupções generalizadas nos serviços de maternidade. "Isso destaca a importância de garantir esse cuidado durante pandemias e outras emergências, observando que as mulheres grávidas precisam de o confiável a serviços e exames de rotina, bem como atendimento de urgência 24 horas por dia", diz o texto.
"O o a serviços de saúde materna de qualidade é um direito, não um privilégio, e todos nós compartilhamos a responsabilidade urgente de construir sistemas de saúde bem dotados de recursos que protejam a vida de cada mulher grávida e recém-nascido", disse a Natalia Kanem, diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas. "Ao impulsionar as cadeias de suprimentos, a força de trabalho de parteiras e os dados desagregados necessários para identificar aqueles em maior risco, podemos e devemos acabar com a tragédia das mortes maternas evitáveis e seu enorme pedágio nas famílias e sociedades."
Compromisso com o futuro
"Valorizar o pré-natal, garantir condições dignas de parto e fortalecer o cuidado no pós-parto não são apenas metas do sistema de saúde, mas um compromisso social com as futuras gerações. É durante o pré-natal que conseguimos rastrear fatores de risco, diagnosticar precocemente doenças e agir a tempo de evitar complicações para mãe e bebê. Além do cuidado emocional, hábitos saudáveis são aliados para uma gestação tranquila. Alimentação equilibrada, prática de atividades físicas, controle do estresse e padrão de sono adequado ajudam a evitar intercorrências comuns à gravidez. No período perinatal, o bebê precisa de e para adaptação cardíaca, respiratória e térmica. Uma assistência qualificada pode evitar sequelas que comprometem a saúde da criança na infância, adolescência e vida adulta".
Alécio Oliveira, ginecologista, obstetra e professor de Medicina do Centro Universitário de
Brasília (Ceub)
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Alécio Oliveira, ginecologista, obstetra e professor de Medicina do Centro Universitário de
Brasília (Ceub)