{ "@context": "http://www.schema.org", "@graph": [{ "@type": "BreadcrumbList", "@id": "", "itemListElement": [{ "@type": "ListItem", "@id": "/#listItem", "position": 1, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/", "name": "In\u00edcio", "description": "O Correio Braziliense (CB) é o mais importante canal de notícias de Brasília. Aqui você encontra as últimas notícias do DF, do Brasil e do mundo.", "url": "/" }, "nextItem": "/cidades-df/#listItem" }, { "@type": "ListItem", "@id": "/cidades-df/#listItem", "position": 2, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/cidades-df/", "name": "Cidades DF", "description": "Cidades é o principal canal de últimas notícias do DF, previsão do tempo, resultados da loteria, diversão e arte ", "url": "/cidades-df/" }, "previousItem": "/#listItem" } ] }, { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": "/cidades-df/2025/05/7149451-artigo.html", "name": "Artigo", "headline": "Artigo", "description": "", "alternateName": "", "alternativeHeadline": "", "datePublished": "2025-05-18T06:01:00Z", "articleBody": "<p class="texto">As tragédias nas vias são um reflexo do adoecimento da sociedade?</p> <p class="texto">Certa vez, estava em um consultório médico aguardando a vez para realizar uma consulta. Fui ao balcão de atendimento por três vezes para saber que horas iria ser atendida, pois já estava um pouco atrasada. De repente, uma senhora de uns quarenta anos, sentada ao meu lado, perguntou: "Por que você está com tanta pressa?". Disse a ela que tinha compromisso na universidade e precisava sair logo.</p> <p class="texto">Ela pensou, me olhou nos olhos e disse: "Você sabe por que estou aqui com esta bengala?". Antes que eu a respondesse, continuou: "Estávamos eu, meu marido e o filho trafegando pela W3 Sul, em um domingo de manhã, após termos saído de uma igreja, quando outro motorista alcoolizado atravessou o sinal vermelho em alta velocidade, atingindo nosso carro pelo lado do motorista. Acordei seis meses depois da colisão; estava em coma. Ao acordar, recebi a notícia de que não tinha mais minha família. Fazem dezoito meses que deixei o hospital, minha vida é de consultório em consultório para recuperar a capacidade motora e a mobilidade. Todos os dias acordo e durmo com dor". E mais uma vez, com um sorriso no rosto, perguntou: "Para que a pressa?".</p> <p class="texto">Notícias desta natureza são corriqueiras na nossa realidade, assim atestam os noticiários e as estatísticas. Dessa maneira, um rápido exame nas estatísticas pode facilmente nos induzir ao sentimento de incredulidade quando nos deparamos com o volume de mortes que acontece anualmente no trânsito. O primeiro impacto é pensar que não pode ser verdade que nós, indivíduos que transitamos no dia a dia, escapamos da morte ou que provocamos a de um semelhante.</p> <p class="texto">Essas mortes têm causa e têm sido provocadas predominantemente por ações deliberadas. Uma ação deliberada, no contexto do trânsito, ocorre quando a pessoa escolhe correr os riscos, mesmo que a ação desencadeie o efeito imediato de conflitos que levam aos acidentes. Seguir ignorando que o trânsito é dotado de normas e regras ao se engajar em um comportamento homicida é a opção pela selvageria, ao invés de optar pela sociabilidade.</p> <p class="texto">O espanto cresce quando os números deixam seu status quantitativo e se convertem em imagens visuais saltando aos olhos da mente em formas humanas. amos a construir uma cena imagética que retrata cerca de quarenta mil corpos espalhados pelo chão ou presos nas engrenagens dos veículos. E em seguida, a indignação se aprofunda ao percebermos que não se trata apenas de uma pessoa ferida, mas de um amplo leque de perdas: a perda da vida, a perda de um pai, de uma mãe, a perda de um filho, de uma filha, de um amigo, de uma amiga, de um vizinho ou vizinha, a perda de um desconhecido! Mas este desconhecido era a pessoa quem foi subtraída da sua parentela, amigos e conhecidos. Em poucos segundos, vai se construindo um cenário difícil de se elaborar, especialmente quando lembramos daqueles que sofrem a perda do seu ente querido e também dos que sobrevivem aos acidentes e se arrastam por anos em internações hospitalares e fisioterapias em busca de recuperar as suas capacidades motoras.</p> <p class="texto">Para estes, as consequências são frequentemente ultrajantes. Além de se submeterem ao afastamento das atividades laborais para cuidar da saúde, têm a dureza de conviver com as dores físicas e psicológicas decorrentes dos traumas e com os custos financeiros dos tratamentos médicos e psicológicos. Transitamos pela incredulidade, ando pelo espanto e indignação para chegar à reflexão: que sociedade é esta? É a sociedade que aceita quase quarenta mil mortes precoces ao ano? Se existem mortes diárias nas vias, é porque a sociedade permite. E o mais assustador, esta mesma sociedade aceita tirar vidas e deixar famílias inteiras em sofrimento como se fosse a "normalidade". Se assim não o fosse, os números não se revelariam; ocultos eles estariam, pois não havendo o fato, não tem como haver registro.</p> <p class="texto">Então, se a sociedade não consegue ver com alarme a morte precoce de quase 40 mil pessoas ao ano enquanto estão se deslocando de um ponto A para um ponto B, não é impossível pensar que uma cota de mortalidade no trânsito se estabeleceu. E se estabeleceu de maneira afrontosa! Tanto os gestores públicos quanto a sociedade se escoram em um pacto de mediocridade. Não se percebe reações positivas suficientes para erradicar essa mazela absurda que ceifa vidas, nem nos gestores públicos e nem nos indivíduos. Veja! Uma ou duas campanhas anuais não são suficientes para erradicar o número de mortes e acidentes graves que têm sido registrados nas vias urbanas e autoestradas.</p> <p class="texto">Há muito para refletir e muito mais para agir. A distração deliberada e a transgressão das normas e regras pelos indivíduos no trânsito deverão ser erradicadas. É pertinente lembrar que, ao compartilhar o ambiente socializado que constitui o trânsito, somos responsáveis pelas vidas uns dos outros. Deixar de provocar mortes e acidentes no trânsito exige de nós comportamentos compromissados com o sentimento de autopreservação, de preservação do outro e de agir com responsabilidade social. Afinal, encerrar essa reflexão somente itindo que a sociedade está adoecida é tornar estéril a discussão. Tem-se a expectativa de que, enquanto existir a possibilidade de reflexão, também haverá a capacidade de acontecer mudanças.</p> <p class="texto">Professora dra. Zuleide O. Feitosa, especialista em Trânsito e Transportes. </p> <p class="texto"></p>", "isAccessibleForFree": true, "image": [ "", "", "" ], "author": [ { "@type": "Person", "name": "Profa. Dra. Zuleide O. Feitosa, especialista em Trânsito e Transportes ", "url": "/autor?termo=" } ], "publisher": { "logo": { "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fimgs2.correiobraziliense.com.br%2Famp%2Flogo_cb_json.png", "@type": "ImageObject" }, "name": "Correio Braziliense", "@type": "Organization" } }, { "@type": "Organization", "@id": "/#organization", "name": "Correio Braziliense", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "/_conteudo/logo_correo-600x60.png", "@id": "/#organizationLogo" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/correiobraziliense", "https://twitter.com/correiobraziliense.com.br", "https://instagram.com/correio.braziliense", "https://www.youtube.com/@correio.braziliense" ], "Point": { "@type": "Point", "telephone": "+556132141100", "Type": "office" } } ] } { "@context": "http://schema.org", "@graph": [{ "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Início", "url": "/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Cidades DF", "url": "/cidades-df/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Politica", "url": "/politica/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Brasil", "url": "/brasil/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Economia", "url": "/economia/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Mundo", "url": "/mundo/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Diversão e Arte", "url": "/diversao-e-arte/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Ciência e Saúde", "url": "/ciencia-e-saude/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Eu Estudante", "url": "/euestudante/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Concursos", "url": "/euestudante/concursos/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Esportes", "url": "/esportes/" } ] } 344911

Artigo 5r351q

Artigo 6h3v7

1u4i4a

As tragédias nas vias são um reflexo do adoecimento da sociedade?

Certa vez, estava em um consultório médico aguardando a vez para realizar uma consulta. Fui ao balcão de atendimento por três vezes para saber que horas iria ser atendida, pois já estava um pouco atrasada. De repente, uma senhora de uns quarenta anos, sentada ao meu lado, perguntou: "Por que você está com tanta pressa?". Disse a ela que tinha compromisso na universidade e precisava sair logo.

Ela pensou, me olhou nos olhos e disse: "Você sabe por que estou aqui com esta bengala?". Antes que eu a respondesse, continuou: "Estávamos eu, meu marido e o filho trafegando pela W3 Sul, em um domingo de manhã, após termos saído de uma igreja, quando outro motorista alcoolizado atravessou o sinal vermelho em alta velocidade, atingindo nosso carro pelo lado do motorista. Acordei seis meses depois da colisão; estava em coma. Ao acordar, recebi a notícia de que não tinha mais minha família. Fazem dezoito meses que deixei o hospital, minha vida é de consultório em consultório para recuperar a capacidade motora e a mobilidade. Todos os dias acordo e durmo com dor". E mais uma vez, com um sorriso no rosto, perguntou: "Para que a pressa?".

Notícias desta natureza são corriqueiras na nossa realidade, assim atestam os noticiários e as estatísticas. Dessa maneira, um rápido exame nas estatísticas pode facilmente nos induzir ao sentimento de incredulidade quando nos deparamos com o volume de mortes que acontece anualmente no trânsito. O primeiro impacto é pensar que não pode ser verdade que nós, indivíduos que transitamos no dia a dia, escapamos da morte ou que provocamos a de um semelhante.

Essas mortes têm causa e têm sido provocadas predominantemente por ações deliberadas. Uma ação deliberada, no contexto do trânsito, ocorre quando a pessoa escolhe correr os riscos, mesmo que a ação desencadeie o efeito imediato de conflitos que levam aos acidentes. Seguir ignorando que o trânsito é dotado de normas e regras ao se engajar em um comportamento homicida é a opção pela selvageria, ao invés de optar pela sociabilidade.

O espanto cresce quando os números deixam seu status quantitativo e se convertem em imagens visuais saltando aos olhos da mente em formas humanas. amos a construir uma cena imagética que retrata cerca de quarenta mil corpos espalhados pelo chão ou presos nas engrenagens dos veículos. E em seguida, a indignação se aprofunda ao percebermos que não se trata apenas de uma pessoa ferida, mas de um amplo leque de perdas: a perda da vida, a perda de um pai, de uma mãe, a perda de um filho, de uma filha, de um amigo, de uma amiga, de um vizinho ou vizinha, a perda de um desconhecido! Mas este desconhecido era a pessoa quem foi subtraída da sua parentela, amigos e conhecidos. Em poucos segundos, vai se construindo um cenário difícil de se elaborar, especialmente quando lembramos daqueles que sofrem a perda do seu ente querido e também dos que sobrevivem aos acidentes e se arrastam por anos em internações hospitalares e fisioterapias em busca de recuperar as suas capacidades motoras.

Para estes, as consequências são frequentemente ultrajantes. Além de se submeterem ao afastamento das atividades laborais para cuidar da saúde, têm a dureza de conviver com as dores físicas e psicológicas decorrentes dos traumas e com os custos financeiros dos tratamentos médicos e psicológicos. Transitamos pela incredulidade, ando pelo espanto e indignação para chegar à reflexão: que sociedade é esta? É a sociedade que aceita quase quarenta mil mortes precoces ao ano? Se existem mortes diárias nas vias, é porque a sociedade permite. E o mais assustador, esta mesma sociedade aceita tirar vidas e deixar famílias inteiras em sofrimento como se fosse a "normalidade". Se assim não o fosse, os números não se revelariam; ocultos eles estariam, pois não havendo o fato, não tem como haver registro.

Então, se a sociedade não consegue ver com alarme a morte precoce de quase 40 mil pessoas ao ano enquanto estão se deslocando de um ponto A para um ponto B, não é impossível pensar que uma cota de mortalidade no trânsito se estabeleceu. E se estabeleceu de maneira afrontosa! Tanto os gestores públicos quanto a sociedade se escoram em um pacto de mediocridade. Não se percebe reações positivas suficientes para erradicar essa mazela absurda que ceifa vidas, nem nos gestores públicos e nem nos indivíduos. Veja! Uma ou duas campanhas anuais não são suficientes para erradicar o número de mortes e acidentes graves que têm sido registrados nas vias urbanas e autoestradas.

Há muito para refletir e muito mais para agir. A distração deliberada e a transgressão das normas e regras pelos indivíduos no trânsito deverão ser erradicadas. É pertinente lembrar que, ao compartilhar o ambiente socializado que constitui o trânsito, somos responsáveis pelas vidas uns dos outros. Deixar de provocar mortes e acidentes no trânsito exige de nós comportamentos compromissados com o sentimento de autopreservação, de preservação do outro e de agir com responsabilidade social. Afinal, encerrar essa reflexão somente itindo que a sociedade está adoecida é tornar estéril a discussão. Tem-se a expectativa de que, enquanto existir a possibilidade de reflexão, também haverá a capacidade de acontecer mudanças.

Professora dra. Zuleide O. Feitosa, especialista em Trânsito e Transportes.

Mais Lidas 2y6064