
A expectativa para a escolha de um novo líder da igreja católica e o legado do papa Francisco nas práticas do catolicismo foram temas abordados, ontem, pelo padre jesuíta Álvaro Pimentel. O pesquisador de filosofia da religião do departamento de filosofia do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (UnB) falou sobre os caminhos que Francisco pavimentou para aproximar a igreja dos fiéis. Às jornalistas Sibele Negromonte e Jaqueline Fonseca, entrevistadoras do CB. Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, o sacerdote destacou quatros frentes de atuação do papa Francisco.
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O senhor acha que o legado do papa Francisco vai ser seguido pelo sucessor?
O papa Francisco não apenas ensinou e escreveu documentos. Ele criou um estilo de papado que foi mais próximo das pessoas. Esse estilo que ele criou foi muito importante para a igreja, ela estava um pouco apagada pelos meios de comunicação e, de repente, tornou-se protagonista do mundo. Eu acredito que o legado do papa irá continuar na igreja.
Quais são as principais atuações que ficarão como legado de Francisco?
Eu vejo quatro frentes de atuação que podem continuar na igreja. A primeira é a chamada sinodalidade, o caminho comum. Representa o caminho que tem que ser percorrido em conjunto dentro da igreja. Não podemos ter um lugar apenas com decisões verticais, mas uma igreja onde tenha mais conversas e debates. Outro grande caminho que Francisco deixou foi a justiça socioambiental. A presença das mulheres também foi muito abordada por ele. As mulheres já possuem um papel essencial dentro da igreja e, segundo a visão do antigo papa, precisam estar ainda mais presentes nas decisões que são tomadas dentro da instituição. E a quarta frente é a valorização daquilo que é normalmente deixado de lado, como a comunidade LBGT, as guerras e os pobres.
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A escolha de um papa também reflete sobre o momento em que o mundo se encontra?
A nossa percepção da realidade é muito guiada pelos problemas, inclusive na escolha de um novo papa. Isso é benéfico porque tem a ver com a nossa principal necessidade, a sobrevivência. Então, os problemas aparecem com muita intensidade e eles são graves. Eu acredito que as dificuldades com que o papa Francisco se deparou continuam presentes no mundo.
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O papa Francisco mudou os rumos da Igreja Católica com algumas práticas adotadas, uma delas foi a sinodalidade. Qual é a importância dessa prática para a igreja?
Começamos com essa prática há pouco mais de 50 anos. Os bispos do mundo todo se reúnem e discutem problemas específicos para definir um caminho comum a ser seguido. Quando Francisco assumiu, havia um sínodo sobre a evangelização e ele acolheu esse problema e ouviu diversas pessoas em mesas redondas para avaliar o futuro da atuação da igreja católica, o que foi uma inovação, já que não costumava ter tanto debate com várias pessoas. Além dessas discussões, Francisco escreveu uma documento papal chamado "A Alegria do Evangelho", que também foi bastante inovador porque incluiu religiosos e religiosas, assim como pessoas leigas e padres.
O papa Francisco também foi muito engajado nas causas ambientais. Como isso influenciou na mudança da visão da igreja sobre o meio ambiente?
Esse é um tema que vai ter que permanecer. Mesmo se o papa que assumir não tiver sensibilidade para essa questão, ele vai ser tão cobrado que vai ter que fazer alguma coisa a respeito. O principal ponto do papa sobre esse assunto foi que o ser humano não está em uma posição privilegiada de fora para alterar a realidade, estamos imersos no mundo e vivemos nessa relação com a natureza.
* Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
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