CRÔNICA DA CIDADE

Após o adeus, a espera pelo novo papa

A partida do papa Francisco foi um belo rito. Até hoje, uma semana depois da notícia que não gostaríamos de dar, fico pensando sobre as tantas coincidências — ou intervenções divinas para quem crê

Papa Francisco estabeleceu uma série de medidas ao longo dos 12 anos de papado, focando em questões de cunho social, como multilateralismo e mudanças climáticas -  (crédito: Alberto PIZZOLI / AFP)
Papa Francisco estabeleceu uma série de medidas ao longo dos 12 anos de papado, focando em questões de cunho social, como multilateralismo e mudanças climáticas - (crédito: Alberto PIZZOLI / AFP)

A vida é rito. Desde pequenos, nos ajustamos às tarefas deste mundo respeitando, em certa medida, as rotinas. A previsibilidade, mesmo que ela venha na certeza do caos diário, representa um elemento importante para nos conectarmos com os outros. Nesse sentido, a fé nos une: tanto em templos espalhados pelo planeta quanto na energia que emanamos a cada reza ou reflexão sobre o Divino.

A partida do papa Francisco foi um belo rito. Até hoje, uma semana depois da notícia que não gostaríamos de dar, fico pensando sobre as tantas coincidências — ou intervenções divinas para quem crê — desse momento. A mensagem de Páscoa pregando a paz, o fato de ele ter resistido até a data que marca, para os cristãos, o fim da quaresma e o renascimento de Cristo, e tantos outros sinais de que a agem é apenas uma parte da caminhada.

O papa foi pop, como cantaram os Engenheiros do Hawaii, e usou sua popularidade para espalhar palavras de solidariedade. Mesmo quando podia pouco diante das injustiças sociais e dos problemas de saúde que o levaram a uma fragilidade física visível, fez questão de ser presente em pequenos gestos: a benção a casais recém-unidos em matrimônio, palavras de conforto a pais, mães e órfãos de guerras, sinais de acolhimento aos excluídos dos ciclos sociais hegemônicos.

Na internet, as lembranças dos encontros com o santo padre e de frases a ele atribuídas ao longo do pontificado sugiram aos montes. O conselho ao casal, para que nunca dormissem brigados; o abraço no menino que chorou a morte do pai e temeu que ele não fosse para o céu por ser ateu; a oração na Praça de São Pedro vazia, em meio à pandemia de covid-19, ensinando que ninguém se salva sozinho.

Como é amplamente divulgado nesses dias que sucedem a sua morte, mesmo aqueles que não creem ou que seguem outras religiões iravam a habilidade do pontífice de defender a quem mais precisava de fé e de abrigo.

A visita a Brasília nunca aconteceu, mas não foi por falta de convite: eles vieram da Arquidiocese, da Presidência e do governo local. Já nos últimos meses de vida e com a saúde debilitada, Francisco não teve forças para voltar ao Brasil e nos presentear com a agem pela capital, mas a mobilização na Catedral e em outras igrejas por aqui mostra que sua mensagem encontrou eco e que a distância não foi um empecilho.

Esse período intermediário que vivemos agora, entre a morte de um papa e a eleição de outro, aproxima-se ao de uma nova quaresma. Momento de reflexão, de oração, de acalmar os ânimos. Como qualquer líder mundial, o que ocupar o papado precisa ter em mente o impacto que suas ações e palavras podem ter sobre essa aldeia global tão diversa e castigada.

 


postado em 28/04/2025 17:45 / atualizado em 28/04/2025 18:32
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