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Jornal Correio Braziliense 4y3m40

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Welliton Caixeta Maciel, professor de antropologia do direito e pesquisador do Grupo Candango de Criminologia da UnB

O surgimento e o fortalecimento da facção Comboio do Cão se deve ao fato, sobretudo, da existência de uma economia do crime no DF, no Entorno e nas regiões próximas cujas mercadorias ilegais visam ao atendimento do consumo de um público seleto, quase sempre socialmente bem abastado, e não apenas ao atendimento dos vícios e aos desejos de pequenos usuários. Brasília nunca foi alvo de pequenos traficantes em termos de uma economia de mercado de drogas. A origem das drogas e das armas que, por aqui am e/ou permanecem, provam o "calibre" do público ao qual elas se destinam, tendo se tornado local estratégico de escoamento dessas mercadorias ilícitas, geralmente, oriundas do Paraguai e de regiões fronteiras. A repressão e a discursividade da "guerra às drogas" produz mais estragos do que imaginamos. É de extrema importância que as forças de segurança continuem cumprindo seu papel na preservação da lei e da ordem. Assim como é necessário que o Sistema de Justiça Criminal atue, por meio de cada uma de suas instituições, na garantia da lei e no alcance da justiça. Porém, é pouco provável que o crime não encontre novos formatos ou persista no modelo já existente e que, como temos visto, se expandiu para todo o país. No DF, o Comboio do Cão é o sintoma e a evidência concreta de um problema que deve ser visto enquanto um fenômeno não apenas como tráfico local. Enquanto o Estado não atacar a política de drogas, pensar na questão da seletividade penal e nos filtros da entrada do sistema prisional, no problema do encarceramento em massa, na questão dos presos provisórios e não priorização às penas e medidas alternativas, dificilmente a economia do crime e as facções perderão força. Até lá, continuaremos observando a disputa por hegemonia de território e poder entre fluxos e circulação de mercadorias ilícitas entre agentes do Estado e faccionados presos e não presos.