Correio Braziliense
postado em 06/05/2020 06:00

Decretos do Governo do Distrito Federal (GDF) que suspenderam atividades em feiras e escolas, entre outros setores, achataram a curva crescente de casos de contaminações na capital, mas tiveram a contrapartida dos impactos financeiros. “A restrição foi assertiva, mas não teve como não afetar agricultores familiares, principalmente os que se dedicam à produção de hortaliças e frutas e dependem do funcionamento de boa parte dos espaços públicos”, comenta Luciano.
Outro cultivo muito atingido é o de flores. Com o fechamento de floriculturas e a suspensão de eventos como casamentos, produtores enfrentam dificuldades. “O plantio é feito com antecedência e tudo mudou de uma hora para outra. Por isso, estamos incentivando as pessoas a comprarem flores por delivery, pois é uma forma de aquecer a economia e lembrar da família dos produtores”, diz o secretário.
Ações da Secretaria de Agricultura e dos produtores surgiram como caminhos possíveis para diminuir as perdas. Desde março, o GDF destinou R$ 4,5 milhões em programas para compra de alimentos de produtores cadastrados. Estima-se que cerca de 1,4 mil tenham sido beneficiados. “Dispomos de três programas, que nos permitem comprar parte da produção deles e colocar à disposição de famílias mais necessitadas. Os produtores levam os alimentos às unidades de recepção, nós organizamos em cestas e colocamos à disposição de creches e asilos previamente cadastrados. Além disso, a Secretaria de Agricultura conclui uma chamada para produtores, que vai permitir que a gente continue adquirindo parte da produção que ia para as escolas, para fazer cestas e levar aos pais dos alunos”, adianta Luciano.
Novas possibilidades
As frutas colhidas em fazendas do DF continuam a abastecer supermercados, mas perderam as feiras e os shoppings, o que prejudicou as vendas de muitos agricultores, como Marco Aurélio Mendonça, 58 anos. Ele comercializa frutas e cogumelos desidratados, produtos em alta nos últimos anos com o crescimento de lojas naturais, mas sentiu o impacto nos últimos dois meses. “Parte da produção caiu quase 90%. Tivemos de reduzir a carga horária de funcionários e trabalhamos praticamente um dia por semana, só. Sofremos muito com esse período”, lamenta.
O agricultor não trabalhava com venda direta à população, mas precisou recorrer a esse caminho, com novas metodologias. “Tivemos de incrementar o sistema de delivery, no qual a pessoa pede por telefone e nós fazemos a entrega em casa. Mesmo assim, hoje, a nossa renda não corresponde a 10% do que a gente vendia, até porque há custos de divulgação também. Mas é a única alternativa que temos”, conta. Marco Aurélio calcula que teve um crescimento de 40% nas vendas no ano ado, mas, agora, os hábitos da população mudaram, e a fruta desidratada não é vista mais como necessidade. “Mas recorremos às redes sociais, temos o auxílio da Emater e estamos tentando nos virar”, revela.
Milho e soja
Enquanto isso, a safra de grãos apresenta dados positivos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o DF se destaca nas estimativas de rendimento médio quando comparado com outras unidades da Federação. Estima-se, para este ano, produção de 9.500kg por hectare na primeira safra de milho, atrás apenas do Paraná; e de 7.000 kg/ha na segunda safra, perdendo apenas para o Rio de Janeiro.
O presidente da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF), José Guilherme Brenner, afirma que o comércio de grãos é pouco afetado, porque está ligado à exportação. “Teve recorde em abril. É o produtor colhendo e entregando na cooperativa, e as empresas retirando”, detalha. Ele explica que, atualmente, a segunda safra está em andamento e que será colhida em junho. É a época do “milho safrinha”, que tem esse nome porque os plantadores conseguem fazer a primeira colheita de soja, entre janeiro e abril, realizando dois ciclos de grãos no mesmo ano.
José Guilherme alerta também para o período de pandemia, com mudanças no consumo de muitos produtos, o que impacta diversos setores. “Sentimos retração no consumo e na compra de alguns alimentos por causa da característica dos clientes, que sentiram o fechamento de escolas, lanchonetes, restaurantes. É necessário entender o momento, perceber, por exemplo, que há uma mudança de padrão quando você a a comer mais em casa e menos na rua. Temos verduras que vendem muito em restaurante, mas no lar não são tão presentes”, avalia. Porém, o produtor entende que se trata de uma situação temporária.
Fique em casa
» Agroindústrias do DF começaram a vender pelo sistema de delivery para minimizar os impactos causados pela pandemia. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) organizou uma lista de pequenas agroindústrias que entregam produtos em casa, como doces, queijos, iogurtes e pães. Outro segmento que sofre neste momento e aderiu às entregas no lar é o das flores. A relação dos produtores de alimentos e plantas pode ser consultada no site www.emater.df.gov.br.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail [email protected].