postado em 23/10/2010 08:00

A estudante Ângela Figueiredo, 37 anos, moradora da bloco I não gostou de ver o espaço em frente ao seu prédio, antes tomado pelo verde, vazio. ;A gente perdeu a sombra e o ar puro. Brasília já é tão seca, ainda vão cortar árvores?;, questionou. Para ela, a vegetação abundante próxima de seu apartamento amenizava o clima árido da capital da República. ;Acho isso errado. Não deveriam cortar ;, reforça.
O analista Paulo Roberto Farias, 59 anos, discorda da vizinha. ;Quem reclama é porque não sabe o motivo da retirada. Essas árvores podem tombar a qualquer momento, podendo acertar carros ou até mesmo pessoas;, explica ele, apontando para os besouros , responsáveis pela queda das árvores. ;Se elas estão com problemas têm que ser cortadas sim, traz segurança para nós moradores. Se uma árvore dessas cair, ninguém vai querer assumir a culpa. Mas alguém tem que assumir;, acrescenta a funcionária pública Maria Betânia Maia, 57 anos, também moradora do bloco I.
O chefe do Departamento de Parques e Jardim (DPJ) da Novacap , Rômulo Ervilha explica que o inseto Euchroma gigantea, chamado popularmente de broca, penetra na base da monguba e põe seus ovos entre o caule e a raiz da planta. As larvas do besouro, que chegam a medir até 15cm, se alimentam do interior da vegetação, deixando-a oca. ;Muitas vezes a árvore não apresenta sintomas externos, mas está comprometida e pode cair com uma ventania ou até mesmo com um empurrão de uma pessoa;, afirma Rômulo.
Queda
O trabalho na 216 Norte ainda não acabou. Segundo Rômulo, ao todo, 30 exemplares comprometidos devem ser retirados do setor residencial. A Novacap foi acionada depois que uma monguba caiu na entrada da quadra em 10 de setembro. ;Por pouco a árvore não atingiu uma moradora que ava de carro. Quando ela caiu, coloquei as mãos na cabeça. Foi um susto muito grande. Ver uma planta dessas ser cortada dói o coração, mas se é para evitar um desastre, acho melhor;, comenta a porteira Valdivina Pereira da Trindade, 57 anos, que assistiu semana ada ao trabalho dos funcionários da Novacap.
O chefe do DPJ, Rômulo Ervilha, conta que de cada três árvores que caem no DF, uma é monguba. ;O número tem diminuído porque estamos tirando. A queda de uma planta dessas pode até matar alguém. Para cortá-la precisamos de um laudo técnico de um engenheiro florestal que confirme a condenação da árvore;, explicou. Segundo Rômulo, não há uma forma de combater ou controlar a praga que ataca as mongubas. ;Além disso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu o uso de produtos agrotóxicos em área urbana;, completa. No lugar da espécie exótica (veja Para saber mais), a Novacap tem colocado plantas nativas do cerrado.
O que diz a lei
Segundo o Decreto n; 14.783/93, a decisão de cortar e erradicar árvores ; não tombadas ; nas áreas urbanas e verdes do Distrito Federal caberá à Novacap. O parecer pode ser concedido mediante: o comprometimento fitossanitário da planta; ameaça de queda iminente; interferência nas redes aéreas e subterrâneas de serviços públicos; comprometimento à saúde da população - devidamente comprovado por parecer médico e risco à integridade de edificações públicas e privadas.
PARA SABER MAIS
Importada da Amazônia
Originária da Floresta Amazônica, a monguba foi trazida para Brasília no início do programa de arborização da cidade. A planta ficou conhecida como monguba ou munguba, mas em outros lugares também pode ser chamada de paineira-de-cuba e castanhola. A espécie de grande porte e copa arredondada é considerada rústica, principalmente pela densidade da folhagem verde-escura. Na fase adulta, pode alcançar até 30m de altura. Os frutos lembram o cacau.